Reacções à morte de Mariano Gago

Declarações de cientistas, políticos e outras personalidades após o anúncio da morte de José Mariano Gago esta sexta-feira. Surgiu também um site no âmbito de um movimento espontâneo da comunidade científica de homenagem a Mariano Gago, onde se podem partilhar testemunhos e fotografias (http://www.marianogago.org).

Foto
Mariano Gago (1948-2015) Nuno Ferreira Santos

Partilhávamos valores que celebravam a importância da ciência

A morte de Mariano Gago representa uma grande perda para Portugal, para a Europa, para a comunidade global dos especialistas dedicados à investigação científica e à educação – para mim em particular – e, claro está, para a sua família. O Mariano e eu fomos grandes amigos durante muito tempo, partilhando a experiência dos físicos e académicos que, mais do que uma vez, responderam ao apelo do serviço público. Partilhávamos valores que celebravam a importância da ciência, da investigação científica, da educação e da inovação em prol do futuro das nossas sociedades. O Mariano era um promotor eficaz da ciência europeia e da colaboração internacional. Vamos ter saudades do Mariano, mas ao mesmo tempo sabemos que todos nós – família e amigos – ficamos com um manancial de memórias inspiradoras e alegres.
Ernie Moniz, professor emérito do MIT, secretário de Estado da Energia dos Estados Unidos

“Pertencia à geração mágica que construiu o novo Portugal”
Fomos informados da morte abrupta do antigo ministro José Mariano Gago e queremos transmitir os nossos pêsames por esta perda irreparável. O professor Gago era um pensador ímpar, um cientista reputado e um político inspirado – um homem exemplar que contribuiu eminentemente para a projecção internacional da investigação científica portuguesa. Pertencia à elite da geração mágica que construiu o novo Portugal. Tivemos a honra e a alegria de colaborar como o ministro Gago no Prémio Internacional Fernando Gil de Filosofia da Ciência, que ele tinha criado em 2009 com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia e da Fundação Calouste Gulbenkian. Pudemos então apreciar plenamente o seu excepcional dinamismo criativo em matéria de defesa e de promoção das ciências. Em nome de todos os membros dos júris do Prémio Internacional Fernando Gil, queremos aqui expressar a nossa simpatia, a nossa emoção e a nossa respeitosa consideração.
Donald Gillies e Jean Petitot, presidentes do Prémio Internacional Fernando Gil de Filosofia da Ciência

“O principal impulsionador de um sistema científico coerente”
A Associação Portuguesa de Sociologia (APS) lamenta profundamente a morte de José Mariano Gago, o principal impulsionador de um sistema de investigação científica coerente, aberto e democrático no nosso país. Homem plurifacetado, aliou o activismo estudantil contra a ditadura a um percurso científico exemplar. Enquanto ministro da Ciência e Tecnologia nos XIII e XIV Governos Constitucionais (1995 – 2002) e ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior nos XVII e XVIII Governos Constitucionais (2005 – 2011), criou e executou diversas medidas de política pública que aliaram a promoção da investigação de base, em centros de investigação e desenvolvimento com financiamento estável, a uma preocupação com o desenvolvimento e a relevância social da própria ciência, que pretendia divulgada, relevante e democratizada. A APS considera que honrar a sua memória significa continuar a lutar por um sistema científico transparente, coerente e dotado de recursos, capaz de lançar pontes para o futuro.
Ana Romão, presidente da Associação Portuguesa de Sociologia

“Era um pensador que sonhava o futuro
É alguém que passa pela vida deixando algo, tem uma herança. O Portugal que ele deixa é diferente do Portugal que recebeu: deixa-nos um Portugal com ciência e com cultura científica. Portugal quase não existia no plano da ciência mundial e hoje, graças à política que ele pôs em prática, existe. Muitos jovens devem-lhe a carreira que estão a fazer. Se temos [a agência] Ciência Viva, a Fundação para a Ciência e a Tecnologia, se temos Ministério da Ciência, é graças a ele. O país deve estar-lhe grato pelo que nos deixa. A melhor homenagem que lhe podemos fazer todos é continuar o que ele fez. Era um pensador que sonhava o futuro para todos e o futuro passa pela ciência. Era uma pessoa com uma grande energia, muito convincente. A cabeça dele fervilhava de futuro. Era inspirador.
Carlos Fiolhais, físico da Universidade de Coimbra

“Era um homem das luzes”
A Ciência Viva deve tudo ao professor Mariano Gago. Aprendemos com ele a força e a grande importância que a ciência tem. Aquilo que conheço dele, em particular nestes 20 anos de proximidade e trabalho conjunto, é um enorme reconhecimento pela cidadania científica, em termos humanísticos. Era um homem das luzes. Tenho a certeza de que a comunidade científica e educativa vai lembrar-se da personalidade do professor Mariano Gago, de uma grande energia e grande generosidade. Temos de continuar a trabalhar com muita energia o legado que nos deixa.
Rosalia Vargas, presidente do Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica

“Era um sonhador criativo”
Fiquei muito perturbado com a notícia. É uma perda insubstituível no nosso universo do conhecimento. Foi quem mais fez em termos de estimular, acompanhar e apostar no conhecimento em todas as áreas. Teve muito cuidado em não privilegiar nenhuma área do conhecimento. Há um outro aspecto importantíssimo que foi a criação do Ciência Viva: foi uma ideia muito original em termos europeus. A ideia de fazer com que os jovens, pais e avós fossem seduzidos pelo conhecimento, que só vai ter um impacto maior daqui a dez, 20, 30 anos. José Mariano Gago era um sonhador realista, alguém que aposta. Um construtor de estruturas sólidas de investigação, e não se esqueceu de que somos responsáveis pelas gerações futuras e precisamos delas para defender o conhecimento. Teve uma influência muito importante no facto de a Europa assumir a aposta no conhecimento. Receio que isso esteja a perder-se um bocadinho. Não sei muito bem exprimir o que sinto. Era para mim alguém que gostava de considerar como um amigo.
Alexandre Quintanilha, investigador, secretário do Conselho de Laboratórios Associados

“Fazedor obstinado, negociador inteligentíssimo”
Trabalho em cancro, nós sabemos que as pessoas morrem. Mas temos sempre esperança que haja pessoas que morram depois de nós. José Mariano Gago representa 40 anos da minha vida activa. Nós não queríamos que ele morresse. É sempre brutal a morte de um amigo. Ele deixa um vazio enorme numa paisagem política e de personalidades. Era exemplar. E temos cada vez menos tipos exemplares. Ele era um fazedor obstinado e um negociador inteligentíssimo. Queria fazer coisas, não era fundamentalista, o ponto de chegada era o que lhe interessava. E conseguiu quase tudo o que queria em termos de revolucionar a cultura científica de um país. Não sei como é que vamos responder ao vazio. Espero que as pessoas da ciência, os amigos dele, respondam com acção. Temos de tornar a ciência e a qualificação das pessoas em prioridades absolutas do país. Não é assim tão caro e é indispensável no futuro. Ele foi exemplar nisto, bateu-se muito pela educação dos adultos, achava que havia um problema de literacia. Vamos ajudar o país a perceber que tem de qualificar os seus cidadãos.
Manuel Sobrinho Simões, director do Ipatimup

JMG, 17 de Abril de 2015
Há os que passam e os que ficam
Há os que ficam onde os seus restos mortais ficarem ou cinzas forem dispersas
Há os que ficam nos que lhes são mais próximos: amores, filhos, mãe, amigos, mulher, etc.
Há os que ficam em muitos outros desconhecidos
Há em geral espaços em que todos ficamos mortos
Mas no tempo, na transformação do tempo
Só um ou outro raro e belíssimos no fazer e no fazer-se
Ficará.
Como este assim
Que será sempre encontrado no tempo todo
Na história da ciência na Europa
E neste nosso país
Transformando o nosso tempo
Transformando-nos pelo seu Fazer
No Seu Fazer-se.
Poema de Maria de Sousa, imunologista e professora emérita da Universidade do Porto

“Cientista de renome internacional”
Cientista de renome internacional, e sempre empenhado na promoção da ciência, impulsionou a adesão de Portugal ao CERN [Laboratório Europeu de Física de Partículas] há 30 anos, e a consequente internacionalização da ciência no país. José Mariano Gago ausentou-se várias vezes do LIP [Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas] para assumir cargos públicos importantes na gestão da ciência, mas era ao LIP que voltava com dedicação para prosseguir a sua actividade científica. No LIP todos sentimos esta imensa perda tanto para o laboratório como para a ciência.
Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas

“Uma revolução e uma festa”
Quando se escrever a história do Portugal Democrático, haverá uma página sobre a qual não haverá dúvidas: aquela onde se irá contar a revolução e a festa que tiveram lugar no nosso país no domínio da investigação e da cultura científica. Esta história tem muitos actores mas um só protagonista: José Mariano Gago, que concebeu, negociou e pôs em prática essa estratégia, trabalhando com todos os parceiros de boa vontade, em Portugal e no estrangeiro, ao longo de diferentes governos e de muitos anos, e que transformou um sistema científico quase inexistente numa rede moderna capaz de se renovar e crescer, ao serviço do desenvolvimento, da cultura e da democracia. Que desapareça num momento onde a sua herança está a ser meticulosamente desmantelada é uma ironia da história e uma chamada de atenção para todos nós.
José Vítor Malheiros, fundador da secção de Ciência do PÚBLICO

“Uma perda irreparável”
Acabado de chegar a Washington, fiquei profundamente chocado com a notícia da morte de José Mariano Gago. Foi um líder estudantil de grande coragem na luta contra a ditadura, cientista internacionalmente reconhecido, ministro com um contributo excepcional para o desenvolvimento da ciência no nosso país e para a vida política portuguesa em geral, mas acima de tudo um grande e querido amigo. Uma perda irreparável.
António Guterres, alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados

“Mudou o paradigma da ciência”
Mariano Gago mudou o paradigma da ciência em Portugal. Colocou no centro da ambição política a sociedade do conhecimento e teve uma preocupação incansável com a democratização da cultura científica, designadamente através do lançamento do programa Ciência Viva. Portugal perdeu hoje um grande servidor, a ciência perdeu hoje um grande cientista, o PS e eu próprio perdemos hoje um grande amigo.
António Costa, líder do Partido Socialista
 
“Dedicou a vida à ciência”
José Mariano Gago dedicou a vida à ciência, como investigador, como gestor, à frente da Junta Nacional de Investigação Científica, e acima de tudo como ministro da Ciência, e depois do Ensino Superior, tendo tido um contributo decisivo para o desenvolvimento científico nacional. O seu trabalho e a actividade marcaram de forma assinalável o grande crescimento e a internacionalização que a ciência teve ao longo de muitos anos em Portugal.
Ministério da Educação e Ciência

“Papel pioneiro”
Enquanto ministro da Ciência, e mais tarde ministro da Ciência e do Ensino Superior, desempenhou essas funções em quatro governos constitucionais, o que lhe permitiu deixar uma marca significativa na organização do sistema científico e tecnológico nacional. Teve indubitavelmente um papel pioneiro no desenvolvimento da política de ciência em Portugal e na internacionalização da investigação científica, projectos em que investiu toda a sua experiência e conhecimento.
Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro

“Um antes e um depois de Mariano Gago”
Mariano Gago assumiu pela primeira vez o cargo de ministro da Ciência e Tecnologia há precisamente 20 anos. Durante este período, a ciência e o ensino superior nacionais registaram o seu mais acentuado crescimento em produtividade e qualidade. Mariano Gago é, sem dúvida, o grande responsável pela introdução dos temas da ciência, da tecnologia e da inovação no cerne da política governativa portuguesa, de tal modo que, na ciência portuguesa, haverá sempre um antes e um depois de Mariano Gago. Também a Universidade do Porto beneficiou em grande medida da cultura de apoio à ciência, e à divulgação da ciência, introduzida por Mariano Gago. Por este motivo, não podia a Universidade do Porto deixar de prestar a devida homenagem pública à vida e obra de Mariano Gago.
Sebastião Feyo de Azevedo, reitor da Universidade do Porto
 
“Figura cimeira da política científica”
José Mariano Gago distinguiu-se como uma das figuras cimeiras da política científica da democracia portuguesa. Em larga medida devido ao seu dinamismo, a ciência portuguesa registou um impulso notável nas últimas décadas, conquistando um nível ímpar de internacionalização e uma enorme difusão junto dos portugueses. Além de homem de ciência e cultura, José Mariano Gago foi, desde jovem, um cidadão exemplar pelo empenho demonstrado na defesa intransigente dos valores da liberdade e da democracia. Com a sua morte, Portugal perde uma das personalidades mais marcantes da sua vida científica e cultural, a quem muito devem várias gerações de investigadores dos mais diversos ramos do saber e do conhecimento.
Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República

Reacções actualizadas às 17h16 de 20 de Abril de 2015.

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