Hoteleiros temem fuga de turistas para destinos concorrentes com a greve na TAP

Impacto da paralisação vai além dos dez dias definidos pelo sindicato dos pilotos e afecta 325 mil hóspedes. AHP estima perdas de 300 milhões de euros.

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Hotelaria reporta cancelamentos de estadias em Lisboa e no Porto Nuno Ferreira Santos

A Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) teme que os dez dias de greve na TAP, convocada pelo Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) entre 1 a 10 de Maio, vão provocar uma fuga de turistas para destinos concorrentes do Mediterrâneo, sobretudo Espanha, Itália e Marrocos.

Henrique Veiga, presidente da AHP, diz que os 325 mil hóspedes estrangeiros que deverão deixar de voar pela companhia portuguesa devido à paralisação vão optar por destinos turísticos concorrentes. “Falamos de um milhão de dormidas e 300 milhões de euros de receitas por via da exportação”, afirma, acrescentando que os impactos se prolongam durante 20 dias, afectando ligações antes e após o período de greve.

“Estes turistas vão para os mercados concorrentes. Há uma perda de turistas que não querem voar pela TAP nos próximos meses. Recordo que no Natal, na última greve, perderam-se visitantes nos dois meses seguintes e só agora a TAP está a recuperar esse mercado. Portugal perde como destino turístico e quem ganha são os que concorrem connosco”, defende.

A escolha de um destino é influenciada por vários factores e até Portugal beneficiou da instabilidade em países como a Tunísia ou o Egipto, que captavam uma maior fatia de visitantes, como franceses, por exemplo. Como nota um estudo da PwC, a Primavera Árabe também acabou por beneficiar Espanha e Croácia e fez com que outros destinos, como Marrocos e Turquia, acentuassem a concorrência por via do preço.

Para os hoteleiros, a greve de uma transportadora aérea num país “periférico” tem ainda mais consequências para o turismo. “São números alarmantes e devem-nos fazer pensar”, diz Henrique Veiga. No dia em que foi anunciada a paralisação, a AHP começou a receber informações dos associados de cancelamentos na zona da Grande Lisboa e Grande Porto, onde o “impacto é maior”. “Começam por ser dois, depois três, depois dez e daqui a mais dias 100 cancelamentos. E esta greve tem um impacto de 20 dias, o dobro dos dias de paragem”, sustenta.

A maior crítica da AHP prende-se com a altura em que a paralisação é convocada. “É uma decisão inoportuna e coloca em risco a sobrevivência da TAP como companhia aérea, numa fase de privatização. Coloca em risco a viabilidade da empresa e do turismo nacional”, sustenta. Contactado, o SPAC não quis tecer comentários.

A Ahresp, Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, também veio criticar a decisão do sindicato e, com palavras duras, “repudia a irresponsabilidade" dos pilotos. “Uma greve em Maio, um mês de fortíssima actividade turística nos principais destinos turísticos nacionais e também o mês de maior planeamento e decisão quanto à escolha do destino para gozo das férias que se aproximam, vai afectar todo o ano turístico, pois as preferências dos turistas serão naturalmente transferidas para a nossa concorrência que, sabendo desta nossa fragilidade, vai reforçar as suas campanhas de promoção, como destinos alternativos, mais credíveis e seguros”, sustenta a associação. E continua: “Segurança não é só não andar aos tiros”.

Nesta sexta-feira, Pedro Passos Coelho dramatizou o assunto, traçando um cenário de “despedimento colectivo, redução de actividade, venda de aviões”. “É ter uma TAP em miniatura, não serve os interesses do país, nem dos pilotos”, afirmou, no debate quinzenal no Parlamento. Numa resposta ao líder da bancada do CDS, Nuno Magalhães, o primeiro-ministro mostrou-se “preocupado” e disse não compreender a decisão do SPAC. “O Governo estabeleceu um acordo com os sindicatos da TAP e não está a ser respeitado. Lamentamos profundamente que isso ocorra”, afirmou, advertindo que a paralisação pode “pôr em risco a própria empresa e não no médio prazo, mas a curto prazo”.

Na quarta-feira, os pilotos decidiram avançar com uma greve de dez dias na TAP, tendo estendido a paralisação à PGA, companhia de aviação regional que pertence ao mesmo grupo. A paralisação terá início já a 1 de Maio e ocorrerá num período em que a transportadora aérea previa movimentar cerca de 350 mil passageiros. A empresa estima, por isso, que os protestos vão causar prejuízos de 70 milhões de euros.

O SPAC exige a devolução das diuturnidades suspensas desde 2011 e uma fatia no capital da TAP, entre 10% e 20%, acusando o Governo e a companhia de não respeitarem um acordo assinado em Dezembro.

No entanto, estas reivindicações não constavam desse documento, que foi assinado por outros oito sindicatos e que permitiu ao cancelamento de uma greve de quatro dias entre o Natal e o Ano Novo.

Neste momento, o braço-de-ferro com os pilotos parece muito difícil de ultrapassar, o que terá consequências dramáticas para a TAP, em vésperas de privatização. Os potenciais investidores têm até 15 de Maio para fazer uma oferta pela companhia. Com Raquel Almeida Correia, Sofia Rodrigues e Maria Lopes 

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