Silêncio sobre embaixador homossexual mancha imagem de tolerância do Papa

Há quatro meses que o francês Laurent Stéfanini espera aprovação para ser embaixador na Santa Sé. Fontes do Vaticano dizem que o seu nome já foi chumbado.

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A posição de tolerância aos homossexuais associada ao Papa Francisco pode estar em risco Tony Gentile / Reuters

O Vaticano ainda não respondeu à nomeação de Laurent Stéfanini para o cargo de embaixador francês na Santa Sé. O pedido de confirmação já foi enviado no dia 5 de Janeiro pelo Governo de Paris. O gabinete de imprensa do Vaticano recusou comentar o caso, mas o silêncio está a ser interpretado como uma maneira subtil – uma “maneira muito jesuíta”, nas palavras do Libération – de afirmar que a Santa Sé não vê com bons olhos o nome de Stéfanini por este ser homossexual.

Esperava-se que o pedido de aprovação da nomeação tivesse tido resposta à data de saída do antigo embaixador francês, em Fevereiro. Caso se confirme que o nome de Stéfanini tenha sido recusado pela Santa Sé devido ao facto de este ser abertamente homossexual – como já avançaram fontes anónimas do Vaticano à imprensa francesa e italiana –, o caso pode manchar a imagem de tolerância associada ao Papa Francisco.

Bergoglio disse em 2013 que não lhe cabia a ele “julgar” a orientação sexual de um católico e que os homossexuais “não devem ser julgados nem marginalizados”, mas sim “integrados na sociedade”. Porém, é contra o casamento gay e contra a adopção por casais do mesmo sexo. 

Laurent Stéfanini foi escolhido directamente pelo Presidente francês, François Hollande e recebeu a aprovação do arcebispo de Paris. Este último escreveu pessoalmente ao Papa Francisco sobre o tema, de acordo com o Libération. Stéfanini, aliás, é encarado como o candidato de eleição para o cargo de embaixador francês na Santa Sé. O Corriere della Sera fala de “um homem com uma cultura excepcional” e, ao Independent, fontes do ministério francês dos Negócios Estrangeiros afirmaram que Stéfanini é “o melhor candidato possível para o cargo”.

Stéfanini foi já o número dois da embaixada de França na Santa Sé, cargo que desempenhou de 2001 a 2005, durante o papado de Bento XVI, agora Papa emérito. Laurent Stéfanini passou depois para o Eliseu, onde ocupou o cargo de chefe de protocolo ao longo das presidências de Nikolas Sarkozy e Hollande.  

Esta não seria a primeira vez que um candidato a embaixador na Santa Sé seria recusado pelo Vaticano, embora, em casos anteriores, as decisões fossem justificadas com o civil dos nomeados. Em 2008, o Vaticano recusou aceitar como embaixador outro francês, Jean-Loup Kuhn-Delforge, por este viver em regime de união de facto com outro homem. Também um candidato argentino a embaixador na Santa Sé, este heterossexual, esbarrou contra a vontade do Vaticano, neste caso por se ter voltado a casar depois de um divórcio.

Francisco e a homossexualidade
Os comentários do Papa Francisco em 2013 foram recebidos como um sinal de que a Igreja Católica poderia estar prestes a entrar num período de relativa abertura ao tema da homossexualidade. Em Outubro do ano passado, o Papa reuniu o sínodo de bispos no Vaticano para debater o assunto da família na sociedade contemporânea. A Santa Sé manteve a condenação à homossexualidade, mas o comunicado que saiu do sínodo apontou para alguma abertura, ao dizer que a comunidade católica deveria “aceitar e valorizar” indivíduos homossexuais.

Mas, mais recentemente, o Papa foi mais severo nas suas declarações sobre o casamento homossexual. “A família está também ameaçada pelo esforço crescente de alguns para que se redefina a própria instituição do casamento, pela relativização, pela cultura do efémero”, disse o Papa em visita às Filipinas, em Janeiro. Francisco fez ainda referência ao que designou por “colonização ideológica”, abordando assim a liberalização do casamento em vários países desenvolvidos.

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