Comissão que acompanha venda da TAP fala de “desespero de tesouraria”

Grupo liderado por Cantiga Esteves, que está a ser ouvido no Parlamento, defendeu que informação sobre a venda deve permanecer reservada.

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Os cinco argelinos chegaram num voo da TAP vindo de Argel e deviam seguir para Cabo Verde Raquel Esperança (arquivo)

O presidente da comissão de acompanhamento da privatização da TAP, que está a ser ouvida nesta quarta-feira no Parlamento, considerou que “há um desespero completo de tesouraria” na TAP, defendendo o modelo escolhido pelo Governo para vender o grupo.

Para João Cantiga Esteves, uma privatização em bolsa não seria o melhor caminho, visto que a TAP tem capitais próprios negativos que rondam os 500 milhões de euros. “Uma empresa com capitais próprios negativos não tem capital para colocar em bolsa", referiu na audição que está a decorrer na Comissão de Economia e Obras Públicas, na sequência de um requerimento do PS.

Por outro lado, o economista, que foi escolhido pelo actual executivo para presidir à comissão de acompanhamento, explicou ainda que o cenário defendido pelo PS, de injecção de capital pelo Estado, também não poderia ser escolhido, visto que está sujeito à autorização da Comissão Europeia, que obriga a que este tipo de operação seja precedida de uma reestruturação profunda.

“Os pedidos de recapitalização pública são acompanhados de um conjunto de condicionalismos. São autorizados com um caderno de encargos pesado”, com “redução de emprego, de rotas não lucrativas e de frota”, afirmou.

"Há números que nos devem fazer reflectir. Há um desespero completo de tesouraria. É andar completamente em desespero, viver o minuto a minuto das dificuldades da empresa do ponto de vista da tesouraria", referiu ainda.

Na semana passada, a TAP divulgou os resultados relativos a 2014, que, no negócio da aviação, atingiram prejuízos de 46 milhões de euros. As perdas foram justificadas, essencialmente, com quatro factores extraordinários: a queda das tarifas, os custos com transferência de passageiros, os fretamentos de aviões a terceiros e o aumento dos encargos com indemnizações a passageiros. Falta ainda conhecer os resultados agregados do grupo, que incluem os prejuízos da unidade de manutenção deficitária no Brasil.

Para Cantiga Esteves, "é urgentíssima a capitalização" da TAP, porque "o que pode estar em causa é a sobrevivência da empresa". E, por isso, destacou o facto de um dos critérios para a escolha do vencedor ser a capitalização da empresa, o que “revela o urgente que é” a injecção de dinheiro fresco no grupo.

Quanto à divulgação de informação sobre o processo, o presidente da comissão de acompanhamento defendeu que esse passo poderia ser prejudicial ao seu desenrolar, colocando-se ao lado do Governo, que recusou ceder ao PS dados como os estudos que estiveram na base da decisão de vender o grupo.

“Pode prejudicar a companhia e o processo”, referiu Cantiga Esteves, assegurando que a comissão tem tido acesso a toda a informação necessária.

O Governo pretende concluir a privatização da TAP até ao final do primeiro semestre, estando agendada para 15 de Maio a entrega de propostas de compra vinculativas. O modelo escolhido pelo executivo passa pela venda, numa primeira fase, de 66% do grupo (61% junto de investidores e 5% junto dos trabalhadores). Mas a intenção, a médio prazo, é que o Estado saia totalmente do capital da transportadora aérea.

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