Isabel II abriu as mais "dramáticas" eleições britânicas em décadas

No início da campanha eleitoral as sondagens apontam para um empate entre os dois maiores partidos e uma elevada distribuição dos votos pelas listas mais pequenas.

David Cameron entra no número 10 de Downing Street, após o discurso
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David Cameron entra no número 10 de Downing Street, após o discurso Stefan Wermuth / Reuters
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Ed Miliband apresentou o programa económico do Labour Peter Nicholls / Reuters
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O UKIP, liderado por Nigel Farage, tem caídos nas sondagens Niklas Hallen / AFP

O Reino Unido entrou numa das mais importantes campanhas eleitorais das últimas décadas num processo que vai culminar a 7 de Maio, quando os britânicos escolherem a próxima Câmara dos Comuns. As sondagens perspectivam um quadro pós-eleitoral de grande incerteza, sem que nenhum dos principais partidos alcance uma maioria estável.

A campanha para as eleições gerais de 7 de Maio arrancaram oficialmente nesta segunda-feira com a dissolução do Parlamento britânico. O primeiro-ministro, David Cameron, começou o dia com a tradicional visita ao Palácio de Buckingham para uma audiência com a rainha – um protocolo opcional mas do qual o líder conservador não quis abrir mão, vendo na visita a Isabel II mais uma possibilidade de marcar a agenda mediática, na óptica de vários comentadores.

Num discurso à frente do número 10 de Downing Street – um local considerado pouco próprio para um acto eleitoral, visto tratar-se da residência oficial do primeiro-ministro –, Cameron defendeu o percurso do seu Governo nos últimos cinco anos. “A Grã-Bretanha estava perto do abismo (…) cinco anos depois, por causa do nosso plano económico de longo prazo e por causa das difíceis decisões que tomámos (…) temos mais pessoas a trabalhar no nosso país do que em qualquer outra altura da História, o nível de vida está a subir e estamos mais seguros economicamente.”

O líder dos tories sublinhou também que a escolha dos eleitores será feita entre si e o líder trabalhista, Ed Miliband, com a clara intenção de afastar aquilo que todas as sondagens têm vindo a demonstrar – o bipartidarismo britânico não só está em risco, como os cenários de coligações pós-eleitorais estáveis são reduzidos. Esta semana, aos dois líderes dos principais partidos vão juntar-se cinco outros dirigentes, reflectindo o actual cenário de fragmentação eleitoral.

Os trabalhistas também escolheram a economia para o primeiro dia da campanha para atacar directamente o eurocepticismo dos Conservadores. O partido publicou no Financial Times um anúncio de uma página em que citava vários empresários britânicos sobre a importância da União Europeia para os seus negócios. “O maior risco para os negócios britânicos é a ameaça de uma saída da UE”, lia-se no cabeçalho da página. Mais tarde, Miliband reiterou esta mensagem durante o lançamento do programa económico do partido.

A abandonar o estado de graça parece estar o UKIP (Partido da Independência do Reino Unido), que chegou a recolher 16% das intenções de voto mas está agora com pouco mais de 13%. O líder do partido nacionalista e eurocéptico, Nigel Farage, admitiu a quebra revelada pelas sondagens, mas sublinhou que o importante será saber “que partidos terão poder suficiente para se coligarem com outros partidos”. “A verdadeira batalha começa hoje [segunda-feira].”

Sondagens dão empate
Os dois principais partidos têm aparecido praticamente empatados nas sondagens das últimas semanas. No sábado, uma sondagem do YouGov dava uma ligeira vantagem dos trabalhistas (36%) em relação aos conservadores (32%), mas que se inverteu um dia depois num estudo da ComRes. Esta tendência deverá ser repetida durante as próximas cinco semanas até às eleições, à medida que se vão multiplicar os estudos de opinião, observa o jornalista do Guardian, Alberto Nardelli. “Com base nos dados actuais, é mais provável que os conservadores e os trabalhistas permaneçam virtualmente empatados.”

O que parece ser certo é que os dois principais partidos vão acentuar a tendência de fragmentação do voto das últimas três décadas. Se em 1979, Trabalhistas e Conservadores concentravam 80,9% dos votos, em 2010 ficaram-se pelos 65,1%, sem que nenhum conseguisse alcançar uma maioria parlamentar. Há cinco anos, a solução encontrada foi a de uma coligação governamental inédita entre os tories e os Liberais Democratas.

Agora, o risco é o de que mesmo este arranjo – que apesar de inédito acabou por ser consensual – seja impossível de reeditar. Depois do desgaste de cinco anos no poder, os liberais têm aparecido fortemente penalizados pelas sondagens, variando entre os 7% e os 9%, bem abaixo dos 23% de 2010, um resultado que retira ao partido liderado por Nick Clegg a capacidade para fornecer os lugares necessários para uma futura maioria parlamentar. Mas há igualmente a deriva eurocéptica dos conservadores – cuja promessa de Cameron em convocar um referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia é uma pedra angular do programa eleitoral – que representa um importante ponto de conflito para os liberais, tradicionalmente pró-europeus.

A lançar ainda mais incerteza está a recente subida meteórica do Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla inglesa) cujas sondagens apontam para que seja o terceiro partido mais representado em Westminster – por causa do sistema de círculos eleitorais uninominais britânico, a votação em termos nacionais de um partido pode ser bastante diferente do número de deputados eleitos. Ancorado no referendo sobre a independência da Escócia, o sucesso do SNP nas eleições gerais pode fazer trazer a questão novamente para o debate público, de acordo com os analistas, e torná-lo num parceiro indispensável num futuro governo.

Perante o quadro que se apresentou no primeiro dia de campanha, na BBC, o editor de política Nick Robinson escrevia que “raramente houve uma escolha tão alargada ou com um impacto que pudesse ser tão dramático”.

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