Albuquerque conquista maioria absoluta pela diferença de um mandato

PS é o partido que sai mais derrotado destas eleições madeirenses. A Coligação Mudança teve um mau resultado. Líder do PS pediu a demissão.

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Miguel Albuquerque foi o grande vencedor da noite Helder Santos/AFP

Por um mandato se perde, por um mandato se ganha. A frase adapta-se muito bem ao resultado obtido este domingo pelo líder do PSD/Madeira, Miguel Albuquerque. Os sociais-democratas conquistaram a sua 11.ª maioria absoluta (44,33%) pela diferença de um deputado, ocupando 24 dos 47 lugares no parlamento madeirense. Com uma abstenção acima dos 50%, fruto não só dos “eleitores fantasma” mas também das fracas expectativas por parte do eleitorado relativamente às onze candidaturas.

Já com a festa na rua, o vencedor de um PSD “renovado”, abriu a porta de “um novo ciclo”. Na declaração após o apuramento final, ficaram as “garantias” de diálogo com os partidos da oposição e com os compromissos assumidos, nomeadamente as conversações com o governo da República para renegociar a dívida e resolver o dossier das ligações marítimas e aéreas. Contudo, alertou para o facto de “não haver milagres”, havendo, sim, muito trabalho pela frente.

"A Madeira terá um novo rumo", disse Miguel Albuquerque. E esse “rumo” passa não só pela abertura do partido “rompendo rotinas” mas, sobretudo, pela implementação de novas políticas em prol da população onde todos são chamados, sublinhando que terá um diálogo permanente com as forças eleitas na Assembleia da Madeira. Cumprimentando os seus adversários, elogiou a forma como a campanha decorreu, agradeceu a cobertura “isenta” dos jornalistas, reconhecendo que o PSD-M foi a votos “numa conjuntura desfavorável”.

Mesmo assim, reiterou a sua “confiança” no partido que desde 1976 sempre governou a Madeira. Nesta transição de líder – Alberto João Jardim felicitou Albuquerque por telefone – surge um novo discurso em que os conceitos democracia e pluralismo são repetidos em uníssono, sem esquecer uma referência aos compatriotas do Continente e dos Açores, a “pátria comum”, reiterando a necessidade de estabelecer “pontes” com o governo central mas deixando o aviso de, por vezes, ser obrigatório “um diálogo institucional firme com a República” . A festa fez-se pelas artérias da cidade, como é costume.

A coligação Mudança (PS, PTP, PAN, MPT), com um resultado desastroso para as pretensões do líder do PS, Victor Freitas – 11,7%, 6 deputados –, continua a ocupar o pódio da terceira força, com o CDS/PP a manter a segunda posição (13,6% – 7 deputados). Se Victor Freitas pediu logo a demissão da liderança, José Manuel Rodrigues, apesar de não ter atingido os seus objectivos - ou seja, retirar a maioria absoluta ao PSD -, acabou por se agarrar ao resultado que o coloca como número 2 do parlamento, embora esta campanha tenha acontecido numa “situação adversa” para os populares madeirenses, isto é, “na República, PSD e CDS governam coligados, quando na Madeira eram adversários”, esclareceu. Em 2011 os centristas tiveram  17,63%  elegendo na altura 9 deputados.

Quanto ao futuro, sublinhou José Manuel Rodrigues, "O PSD tem agora todas as condições para novas políticas, vamos ver o que vai dar a anunciada renovação", disse ainda o líder do CDS.

Os problemas mais complicados ficam agora para o PS resolver nos próximos dias. Com a demissão do líder que corre o risco de ver ainda mais reduzido o grupo parlamentar, se José Manuel Coelho (PTP) cumprir o que afirmou ao PÚBLICO, “saltar” da bancada socialista e correr por conta própria, os socialistas ainda ficam com o mesmo número de deputados (5) que a JPP, Juntos pelo Povo, a grande surpresa da noite.

Os socialistas vão agora preparar-se para um congresso com o argumento de que se tivesse havido uma coligação com o CDS, por exemplo, tal como propôs José Manuel Rodrigues, com um candidato independente a presidente do governo, haveria toda a probabilidade de fazerem cair o PSD.

Carlos Pereira, economista, e líder parlamentar na anterior legislatura, é o nome que ganha mais consenso dentro do partido. Isto se o PS não continuar a partir-se, correndo o risco de se transformar num partido residual. Muitas foram as críticas à Coligação Mudança que juntou o PS ao PTP de José Manuel Coelho, e que ontem nem apareceu na sede de campanha.

Mas há surpresas nos partidos mais pequenos. O Bloco de Esquerda regressa ao parlamento com dois deputados, assim como a CDU. Também o PND consegue manter-se na Assembleia com um deputado. O PND considerou uma “vitória” a manutenção de um deputado no parlamento regional, tendo em conta “o síndroma de Estocolmo” que julga afectar o povo madeirense, segundo referiu Gil Canha.

A CDU-Madeira ficou a cinco votos de eleger um terceiro deputado nas eleições legislativas deste domingo. Em declarações logo após a contagem de votos, Edgar Silva, coordenador regional, considerou que a CDU obteve uma "votação histórica, o melhor de sempre do partido nas eleições regionais", destacando que estão à beira de conseguir o terceiro mandato.

Nesse sentido, a CDU (PCP-PEV) vai recorrer à Assembleia de Apuramento, que poderá decidir se há ou não maioria absoluta do PSD, conquistada por pouco. Os tais cinco votos que a CDU vai procurar obter. "A CDU pode tirar a maioria absoluta ao PSD", reforça Edgar Silva.

 

Resultados finais

PPD/PSD: 44,33% (56.690 votos), 24 deputados

CDS-PP: 13,69% (17.514 votos), 7 deputados

PS-PTP-PAN-MPT: 11,41% (14.593 votos), 6 deputados

JPP: 10,34% (13.228 votos), 5 deputados

PCP-PEV: 5,54% (7082 votos), 2 deputados

BE: 3,80 (4859 votos), 2 deputados

PND: 2,05% (2628 votos), 1 deputado

PCTP/MRPP: 1,69% (2166 votos)

MAS: 1,34% (1719 votos)

PNR: 0,82% (1044 votos)

PPM-PDM: 0,71% (904 votos)

Brancos: 0,87% (1113 votos)

Nulos: 3,40% (4353 votos)

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