Dirigentes mundiais e milhares de tunisinos marcham contra o terrorismo

Autoridades dizem ter conseguido matar o principal responsável do atentado contra o Museu Bardo de Tunes, onde morreram 22 turistas e um tunisino.

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Os tunisinos transformam a capital num mar de bandeiras Fethi Belaid/AFP

Dezenas de milhares de tunisinos encheram este domingo as ruas de Tunes numa marcha sob o slogan “O Mundo é Bardo” – uma resposta ao ataque terrorista que no dia 18 deixou 23 pessoas mortas, incluindo 22 turistas estrangeiros no Museu Bardo da cidade, que reúne a mais importante colecção de mosaicos romanos do mundo.

“Tunísia livre, fora terrorismo” ou “O nosso país é mais forte do que vocês” foram algumas das palavras de ordem dos manifestantes que no seu percurso passaram diante do Museu e do Parlamento, mesmo ao lado. À cabeça da marcha seguia o Presidente, Béji Caïd Essebsi, acompanhado por vários dirigentes mundiais, incluindo os primeiros-ministros da Itália, Matteo Renzi, e da Argélia, Abdelmalek Sellal, o chefe de Estado francês, François Hollande, ou o líder palestiniano, Mahmoud Abbas.

“Os tunisinos provam que não se curvam face ao terrorismo, defendem a sua nação”, afirmou Essebsi, horas depois de o Governo ter anunciado a morte de nove membros do grupo jihadista Okba Ibn Nafaa, uma célula local próxima da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico. Entre os mortos, numa operação das forças de segurança em Gafsa, uma região deprimida no ocidente do país, está Lokaman Abu Sakhra, o argelino que é o suspeito líder do atentado ao Bardo e um dos “terroristas mais perigosos da Tunísia”.

O ataque foi reivindicado pelo autoproclamado Estado Islâmico, um grupo que nasceu no Iraque e ganhou força no caos da guerra síria, mas o Governo tunisino responsabilizou a Al-Qaeda e o seu aliado, o grupo de Sakhra, acusado de estar por trás da morte de dezenas de polícias e militares desde Dezembro de 2002.

Na verdade, apesar de os dois grupos serem rivais assumidos, um e outro têm influência no Magrebe – os dois atacantes que realizaram o atentado (e foram mortos pela polícia) terão recebido treino na fronteira da Tunísia com a Líbia, país onde diferentes grupos têm anunciado recentemente a sua lealdade ao Estado Islâmico.

Certo era o objectivo do atentado: prejudicar o turismo, uma indústria fundamental no país onde as revoltas árabes começaram e o único por onde estas passaram a conseguir resistir com uma estabilidade razoável e já dois governos eleitos, um dominado pelos islamistas moderados do Ennahda, outro pela coligação do Presidente Essebsi, que junta empresários, figuras de esquerda e políticos do antigo regime.

Tanto o Ennahda, segunda força política, como a poderosa central sindical UGT estiveram na manifestação. Já a coligação de esquerda Frente Popular, que com a participação do Ennahda no Governo se tornou no principal partido da oposição, decidiu boicotar o protesto, denunciando a “hipocrisia” de alguns participantes, numa referência clara aos islamistas, acusados pelos críticos de não terem feito o suficiente para combater a ameaça jihadista enquanto estiveram no poder.

“O terrorismo quis atacar um país, a Tunísia, que iniciou a Primavera Árabe e teve um percurso exemplar em termos de democracia e pluralismo”, disse Hollande. Quatro dos mortos no Bardo eram franceses, incluindo Huguette Dupeu, que estava internada com ferimentos e morreu no sábado.

“Todas as pessoas vieram dizer ‘não’ ao terrorismo e transmitir uma mensagem aos terroristas: a Tunísia é intocável”, afirmou à AFP um dos manifestantes, Tayia Shihaui, que viajou até de Tunes de Sidi Bouzid, a cidade no centro do país onde Mohamed Bouazizi se imolou pelo fogo, em Dezembro de 2010, iniciando a vaga de protestos que levaram à queda do ditador Ben Ali, a 14 de Janeiro, e abalaram uma parte considerável do mundo árabe em 2011.

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