Esquizofrenia

Marjane Satrapi distancia-se de Persépolis com um filme bizarro que desafia o espectador.

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O que é que Marjane Satrapi anda a fazer? Ao certo, ao certo, sabemos que ela não quer fazer outro Persépolis (2007), e isso só lhe fica bem.

As Vozes também não tem nada a ver com o anterior Galinha com Ameixas (2011) (o filme seguinte, La Bande des Jotas, não chegou cá) e pode ser entendido como uma “encomenda”, produção americana onde a desenhadora iraniana filma um argumento escrito por outrem. O resultado é o filho bastardo e escarninho de uma comédia negra e de um slasher movie contada do ponto de vista do seu herói-vilão, um aparente americano médio com problemas psiquiátricos (cuja extensão só perceberemos aos poucos) a que Ryan Reynolds se entrega com gosto. Jerry é ao mesmo tempo vítima e culpado, bem-intencionado e louco, alguém que não sabe qual é o seu lugar nem como o encontrar - é como se a esquizofrenia do seu herói contagiasse o filme, que balança loucamente entre tons muito diferentes sem nunca os conciliar. Mas Satrapi deixa sistematicamente o espectador na dúvida: esse desequilíbrio é propositado ou acidental? Desastrado ou deliberado? Talvez seja essa a sua ideia, deixar o espectador na dúvida sobre o que acabou de ver – e consegue-o de modo tão definitivo que é difícil saber o que achar de As Vozes.

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