O inevitável caso da vida

Jennifer Aniston não precisava deste filme.

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Apesar de uma filmografia onde escasseiam os títulos realmente importantes, Jennifer Aniston já mostrou que é uma actriz que se pode levar a sério — assim do pé para a mão lembramo-nos de É Agora ou Nunca, de Miguel Arteta, e de Separados de Fresco, de Peyton Reed.

Quer dizer que não precisava, para nos convencer, de um filme caça-prémios (ganhou alguns, foi nomeado para outros, mas falhou os oscars) como Cake, um filme de “interpretação”, e naturalmente a interpretação de uma personagem em extremo sofrimento (porque os prémios, por norma, não se ganham com prazer, ganham-se a sofrer). O filme de Daniel Barnz não é despudorado nem indigno, tem até bastante em comum, em termos de sobriedade, com o quase-homólogo O Meu Nome é Alice, que valeu a Julianne Moore uma nomeação para os Oscars deste ano.

Encontramos Aniston no papel de uma mulher a debater-se com as sequelas físicas e psicológicas de um acidente de automóvel em que perdeu um filho, e abandonada por um marido desalmado. O sofrimento físico e psicológico, abundantemente ilustrado, levam-na a fantasiar com o suicídio, corporizado pela “personagem-fantasma” de uma suicida que também frequentava o mesmo grupo de apoio que ela. Barnz evita o choradinho melodramático, mas ao mesmo tempo atenua-o sempre por uma propensão — vide o uso da música — para um sentimentalismo adocicado, dentro duma mise-en-scène que não é muito mais imaginativa do que a de um telefilme dedicado a “casos da vida” e a exemplos positivos de superação de desgraças. Aniston aguenta-se perfeitamente, mas, de facto, não precisava disto.

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