Administração do BPI rejeita OPA do CaixaBank

Conselho de Administração diz que accionistas não devem aceitar a proposta e que preço é baixo.

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Maiores accionistas estão a negociar a eventual venda da participação de um deles

"O conselho de administração entende que o preço de 1,329 euros por acção oferecido pelo CaixaBank" através da Oferta Pública de Aquisição, "não reflecte o valor actual do BPI, pelo que não recomenda aos seus accionistas que aceitem aquela oferta".

Desta forma, o conselho de Administração do BPI, liderada por Artur Santos Silva, rejeita a Oferta Pública de Aquisição (OPA) lançada pelo CaixaBank (do grupo La Caixa) sobre a maioria do seu capital, por não reflectir o real valor da instituição. O BPI considera que o preço justo não é de 1,329 euros. Do seu ponto de vista, segundo o comunicado enviado ao regulador do mercado de capitais, a gestão do banco defende que o preço que reflecte o valor das acções é de 2,26 euros por título. Este valor divide-se em 1,12 euros pela actividade doméstica e 0,92 pela internacional, o que totaliza 2,04 euros. Depois, há ainda  que contar com 0,22 euros do valor das sinergias "anunciadas pelo oferente". Assim, chega-se aos 2,26 euros, ou seja, 70% acima do valor por título oferecido pelo CaixaBank. "O preço da oferta não reflecte o valor actual do BPI correspondente ao valor agregado da actividade doméstica e da actividade internacional, nem partilha com os accionistas do banco as sinergias anunciadas pelo oferente", lê-se no comunicado.

De acordo com este órgão de gestão do BPI, presidido por Artur Santos Silva (fundador do banco), "a partir de 16 de
Dezembro de 2014 a cotação do BPI foi significativamente penalizada pelo comunicado divulgado pelo BPI nesse dia, relativo à perda de equivalência de supervisão em Angola", o que, diz o conselho de administração, desvirtua uma média simples dos últimos seis meses, como fez o CaixaBank.

Apesar de os 12 membros da administração que estiveram presentes na reunião, e que têm acções do BPI, terem todos deliberado pela "não aceitação" de vender as suas acções na OPA, a  leitura do relatório que comenta o prospecto de emissão da OPA do CaixaBank (que possui 44,1% do banco português), mostra que o seu conteúdo não foi consensual: quatro investidores, entre os quais está Mário Silva, que representa Isabel dos Santos (com 19%), opuseram-se por considerarem que a resposta da administração à oferta omite aspectos relevantes que deveriam ter sido abordados. Além de Mário Silva, também Armando Leite de Pinho (Arsopi), Edgar Alves Ferreira (Violas) e Alfredo Rezende Almeida votaram contra o relatório tal como ele foi feito (e aprovado pela maioria).

O representante de Isabel dos Santos pediu mesmo para apresentar uma declaração de voto, de modo a clarificar os seus argumentos.Para Mário Silva, os "documentos apresentados pelo CaixaBank e sobre os quais o Conselho se pronuncia contêm um conjunto de vícios que prejudicam a sua análise". O gestor aponta "as autorizações regulatórias que o oferente [CaixaBank] terá solicitado e sobre as quais não existe qualquer visibilidade", os "planos estratégicos do CaixaBank para os mercados em que o BPI está presente", as "repercussões da oferta nos interesses da sociedade visada", como os trabalhadores, e ainda "os efeitos da consolidação para efeitos contabilísticos e prudenciais do CaixaBank no BPI".

O gestor que representa os interesses da empresária angolana em Portugal defende ainda que a gestão do BPI devia ter "emitido a sua opinião sobre matérias tão importantes e fundamentais como o destino dos projectos em curso em
Angola e Moçambique e a falta de proximidade cultural do CaixaBank em relação a esses projectos, o destino da parceria com o Grupo Allianz", terceiro maior accionista do BPI, com 8%, e parceiro na gestão da seguradora Cosec.

Ao mesmo tempo, e uma vez que o BPI já afirmara estar na corrida à compra do Novo Banco (ex-BES), Mário Silva defende que a OPA dos catalães tem "um cariz oportunístico" o que, diz, está demonstrado no relatório. No entanto, considera que se devia ter ido "mais longe". "Esta oferta é, na minha opinião, inoportuna e não alinhada com os
melhores interesses da Instituição, dos seus accionistas, dos seus trabalhadores e demais stakeholders, devendo o conselho de administração regressar tão prontamente quanto possível à análise das opções de consolidação", destaca.

Depois de ter sido conhecida a intenção de lançar uma OPA pelos catalões, Isabel dos Santos veio promover uma fusão do BPI com o BCP (ambos presentes em Moçambique e em Angola).

O encontro desta quinta-feira, que arrancou depois do almoço e de onde saiu o relatório final, seguiu-se a um outro que decorreu ontem, com divisão accionista  e onde não estiveram presentes os representantes do La Caixa na administração do BPI, por questões de conflito de interesses. A OPA visa 100% do capital do BPI, ou 50% mais uma acção e fim da blindagem dos estatutos (os direitos de voto estão limitados a 20%).

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