Quer ser um smartparent? Faça um contrato com o seu filho

Janell Burley Hofmann teve medos quando o filho lhe pediu o primeiro telemóvel. Fez um contrato que chega agora a Portugal em formato de livro.

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Na casa dos Hofmann há três smartphones. O pai e a mãe têm um e Gregory também. Recebeu-o num Natal depois de muita insistência e negociação. O telemóvel chegou mas com um contrato e não era da Apple. A mãe fez uma lista de 18 regras a seguir por Gregory para um bom relacionamento com a tecnologia.

O contrato foi parar ao Huffington Post e tornou-se viral. Nasceu iRules, um livro que chega este mês a Portugal, pela mão da editora Pergaminho, com regras para que a tecnologia não seja invasiva quando somos jovens.

Nas noites anteriores à “grande decisão” – dar ou não um iPhone ao filho, então com 13 anos –, Janell Burley Hofmann pesou os prós e os contras. “Os dias avançam para o Natal e eu perco o sono à noite, na esperança de que ele esteja preparado para lidar com esse acesso ao mundo inteiro, numa privacidade inédita, numa altura do desenvolvimento adolescente em que o risco é a própria recompensa”, conta a coach, conferencista e jornalista especializada em temas de parentalidade e tecnologia no livro iRegras, Como educar o seu filho na era digital.

Se para alguns pais dar um telemóvel a um filho é quase obrigatório, por uma questão de segurança ou controlo, para Janell era pôr nas mãos de Gregory algo que tinha tanto de fantástico como de assustador. Decidiu aproveitar uma promoção e comprar o telemóvel e redigir um contrato de utilização. “Espero que compreendas que a minha função é fazer de ti um jovem íntegro e sadio que saiba mover-se no mundo e coexistir com a tecnologia, e não que se deixe manipular pela tecnologia”, começou por escrever.

Gregory estendeu o enorme sorriso que fez quando abriu a caixa do iPhone às regras propostas pela mãe. “Ena, mãe tens mesmo jeito para isto. Não deve faltar aqui nada”. O rapaz, o mais velho de cinco irmãos, tem agora 15 anos e, segundo conta Janell ao PÚBLICO, continua a seguir as 18 regras para usar o seu iPhone. “Ele continua a seguir as regras no nosso contrato original iRegras apesar de terem mudado e adaptado ao seu crescimento. Por exemplo, em vez de ter que desligar o telemóvel às 19h30 durante a semana, pode desligá-lo entre as 21h e as 21h30. Ele considera que as regras no contrato são justas e razoáveis”.

Regras simples
Desligar o telemóvel a determinadas horas durante a semana e no fim-de-semana é uma das regras simples instituída pela autora. Também há a regra de que o pin e a password são do conhecimento dos pais e que o iPhone não vai para a escola. Também não se pesquisa pornografia nem se envia ou recebe fotografias de partes íntimas. Não é ainda preciso estar sempre a documentar tudo com vídeos e fotos. A regra 18 fala na possibilidade de castigo quando as normas são quebradas mas em troca é prometida uma conversa para discutir ideias e recomeçar.

Foi através dessas conversas, que Janell chama de “tecno-conversas”, que Gregory conseguiu que os pais o autorizassem a ter o telemóvel ligado durante mais duas horas durante a semana, por exemplo. Houve também tecno-conversas para criar uma conta no Instagram ou partilhar determinadas fotografias online.

Mas isto de ser um smartparent (pai inteligente) é exigente e é preciso estar a par das novas tecnologias e estabelecer muita comunicação com os filhos, como defende Janell. “Penso que um smartparent tem um entendimento sobre tecnologia – como funciona e como os seus filhos a usam. Também têm de ter uma comunicação fantástica com os seus filhos. Falam sobre vários temas, principalmente porque a tecnologia muda tão depressa, temos de nos manter ligados com as nossas crianças. Os smartparents também sabem o que é importante. Determinam quem querem que use a tecnologia e como ter espaço e tempo sem ela”, defende a autora.

Regras para outros gadgets
Neste momento, apenas Gregory tem um telemóvel. Os restantes filhos dos Hofmann partilham aparelhos como o iPad ou Xbox e para os utilizarem também seguem regras. Uma das regras básicas é que ninguém joga durante a semana de escola. “O meu outro filho Brendan, que tem 12 anos, tem uma conta no Instagram e também criámos algumas iRegras para essa conta. Penso que é um excelente caminho encorajar comportamentos saudáveis com a tecnologia”, diz ao PÚBLICO.

No último ano, Janell Burley Hofmann habituou-se a ver o livro iRegras adaptado à realidade das escolas e das famílias. “Adoro ver o que os outros criam e ver como funciona bem com eles”, confessa.

Em iRegras, como educar o seu filho na era digital, Jannell Hofmann desenvolve cada uma das 18 regras do contrato que fez com Gregory. No último capítulo deixa um conselho aos pais que receiam ser acusados de controladores e defende a insistência para se receber compreensão e aceitação.

“Comece um diálogo com os seus filhos, elabore um contrato iRegras, atrapalhe-se. Fique constrangido com conversas sobre pornografia ou nudies ou cyberbullying. Confrangedor, pois é… Aprenda a usar as redes sociais, abra contas, siga e seja amigo dos seus filhos. Deixe-os revirar os olhos. Imponha-se quanto à linguagem que lhe desagrade, selfies que dão vontade de fugir, comunicação social que os leva aos arames. Conheça a sua família. Largue os aparelhos, mesmo que dê trabalho e as mensagens fiquem por responder e a sua filha não fale consigo. Há-de falar. É para isso que isto serve”.

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