Granadeiro assume ter sido ele a viabilizar investimento na Rioforte

Antigo homem forte da PT SGPS está a ser ouvido na AR "sob juramento" e seguindo a sua "confissão religiosa".

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Granadeiro diz que quer "contribuir para o esclarecimento da verdade dos factos" Miguel Manso

O ex-presidente da PT SGPS Henrique Granadeiro assumiu nesta quarta-feira ter sido ele a viabilizar "o investimento de 200 milhões de euros na Rioforte”, que fez subir a aplicação da Portugal Telecom (PT) no Grupo Espírito Santo (GES) para 897 milhões de euros. Granadeiro disse tê-lo feito sustentado na "opinião" de Luís Pacheco de Melo, o administrador financeiro da empresa de telecomunicações. Pacheco de Melo vai estar esta quinta-feira nesta mesma comissão parlamentar de inquérito (CPI) ao colapso do BES/GES a prestar esclarecimentos sobre o caso.

Granadeiro contou ainda que foi o Banco Espírito Santo de Investimento (BESI) que sugeriu passar o investimento da Espírito Santo International (ESI) para a Rioforte. Granadeiro soube desta proposta do BESI e disse que foi a pedido de Salgado que falou com Pacheco de Melo para que este estudasse a operação. Na sequência, Pacheco de Melo foi falar com Morais Pires – um encontro envolto em tensão, como relatou já o PÚBLICO a 26 de Outubro do ano passado.

Granadeiro, que se faz acompanhar na CPI do seu advogado, arrancou com a sua intervenção com a leitura de um depoimento em que relatou aspectos relacionados com as suas funções de liderança à frente da PT, bem como a estratégia seguida pela empresa nos últimos anos.

Começou por dizer que estava ali, perante os deputados, para "contribuir para o esclarecimento da verdade dos factos". E disse mais: "Faço-o sob juramento, no sentido que isso tem para a minha confissão religiosa e para as minhas convicções republicanas."

Depois de o responsável máximo da operadora Zeinal Bava ter ido na semana passada ao Parlamento dizer que não se "recordava de nada", Granadeiro deverá assumir a sua quota de responsabilidades nalgumas decisões polémicas. O gestor deverá explicar, nomeadamente, o financiamento de 897 milhões concedido pela PT à Rioforte (holding do Grupo Espírito Santo que faliu), decisão que contaminou as contas da operadora, de que o Banco Espírito Santo e a Ongoing eram os principais accionistas.

Depois de ter sublinhado várias vezes que a co-liderança da PT, partilhada entre Granadeiro e Bava, se revelou um erro e fonte de problemas, o ex-presidente referiu que não tinha qualquer evidência que lhe permitisse "concluir ou suspeitar" que a aplicação na Rioforte, realizada e renovada em várias fases, envolvesse "qualquer risco nestes investimentos".

Granadeiro evocou ainda que o financiamento à Rioforte decorreu a pedido do BES. E que o presidente e o administrador financeiro desta holding do GES lhe garantiram que "o cash flow e o financiamento era gerido" pelo CFO do BES, Amílcar Morais Pires.

Antes de terminar a sua intervenção, o ex-presidente da PT deixou algumas reflexões: "Por que é que a PT SGPS, que tem 36%, aceita uma situação subalterna e humilhante perante os antigos responsáveis da Oi, que tem menos de 1%?" "Intriga-me que a PT SGPS não tenha ainda demandado o BES e o Novo Banco", por prestação de informação falsa.

E  evoca que ele próprio, enquanro presidente, foi comunicar ao BdP e à gestão do Novo Banco que "a PT ia demandar o Novo Banco e o BES", mas depoiss de ter saído da operadora nada aconteceu. 

Antes de terminar, Granadeiro garantiu que sempre agiu “livre de quaisquer interesses ou pressões", nomeadamente, do seu principal accionista, o BES.

Já na fase de respostas à primeira ronda de perguntas dos deputados, Granadeiro disse que decide pela sua cabeça e que não aceita “fazer figura de palhaço". Sobre a OPA lançada pela Sonae à PT lembrou que "não é com os 10% do BES que se ganha" uma operação daquela natureza.

O BES "tinha o melhor preço" e foi por isso que a PT teve sempre, a partir de 2008 e até 2014, mais de 50% da sua tesouraria exposta ao grupo liderado por Ricardo Salgado. Em 2014, a exposição ao GES chegou a ser superior a 97%. Havia uma "preferência" pelo BES, por ser o principal accionista, mas não "uma exclusividade". "O jogo" do mercado "era aberto", disse. Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda, lembrou que o relatório da PricewaterhouseCoopers não revelou evidências de "que havia um jogo aberto".

O relatório e contas da PT não estava "efectivamente correcto" ao dizer que a estratégia da empresa de aplicações de tesouraria era diversificada, admitiu Granadeiro, confrontado pela deputada do BE, que lembrou que em 2013 a PT tinha 91% da sua tesouraria aplicada (investimento na Rioforte/ESI e depósitos no BES) no GES. Um padrão seguido ao longo de vários anos.

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