Cápsula do tempo: análises sérias e sonhos infantis para 2040

Artefactos, fotografias, vídeos e textos sobre o presente e o futuro. O PÚBLICO vai começar a recolher objectos para uma cápsula do tempo, a enterrar este ano, em Lisboa, numa acção conjunta com a EDP. É o início de um diálogo que culminará a 5 de Março de 2040, no 50.º aniversário do jornal, com a reabertura da cápsula e a redescoberta dos objectos.

Os leitores podem enviar os seus contributos – com a referência “Cápsula do Tempo” no sobrescrito – para Edifício Diogo Cão, Doca de Alcântara Norte, 1350-352 Lisboa.

A cápsula será desenhada pelo arquitecto Manuel Mateus e terá como propósito transportar objectos e documentos que tracem um retrato do presente, tendo em conta as críticas mais comuns. Entre elas, a irrelevância de que estas cápsulas se revestem por transportarem objectos de reduzido valor do ponto de vista das ciências sociais ou documentos com mera futurologia, em vez de registos do quotidiano do tempo em que foram pensadas e fechadas.

Para contornar este problema, as previsões mais fantasiosas ficam a cargo das crianças: para elas, é o mesmo imaginar 2040 ou 4040. E é por terem a imaginação menos contaminada pelas possibilidades do real que convidaremos os alunos de algumas escolas, com cerca de dez anos, a conjecturar sobre o futuro. Sem limites conceptuais. Como vamos viajar? Como vai ser a escola? Como vão ser os correios? Como vão ser as lâmpadas? E as tomadas eléctricas?

A cápsula guardará ainda os contributos das 11 “pessoas fora do tempo” que na Revista 2 de domingo foram convidadas a imaginar o mundo daqui a 25 anos. Um objecto, uma ideia, um hábito que deixarão de existir em 2040 (ou tornar-se obsoleto) e o seu inverso – um objecto, uma ideia, um hábito que em 2040 passará a ser central nas nossas vidas.

Ao mesmo tempo, os leitores podem contribuir com objectos e registos do seu dia-a-dia: fotografias, vídeos, notas escritas. Estes documentos mostrarão como era o país em 2015, o quotidiano da gente arredada das notícias, as rotinas, os passatempos, as modas, o design, os hábitos de consumo, os preços, a gastronomia, a oferta cultural, a tecnologia, a ciência, etc.

Além dos registos em texto, fotografia, vídeo ou ilustração, os leitores podem endereçar-nos objectos pessoais, de pequena dimensão, parco valor monetário e não perecíveis. Os exemplos são muitos: boletins de jogos da sorte, menus de restaurante, esferográficas, folhetos informativos, utensílios de cozinha, peças de roupa, medicamentos, análises clínicas, extractos bancários, bebidas, conservas, ferramentas, utensílios agrícolas, instrumentos musicais…

O segundo desafio que o PÚBLICO lança aos leitores está relacionado com a inovação. É uma questão inerente às cápsulas do tempo. Em 2040, muitos dos objectos que existem hoje serão completamente obsoletos e terão desaparecido das nossas vidas. Outros, pelo contrário, serão tão desenvolvidos que mal os identificaremos. Outros ainda continuarão a existir tal como os conhecemos hoje, sem alterações de monta, e a servir os mesmos propósitos 25 anos depois.

Os leitores poderão apostar na capacidade inovadora da humanidade e enviar-nos objectos para qualquer um dos três grupos – de acordo com a antecipação que fazem. As lentes de contacto deixarão de ser utilizadas? O plástico continuará omnipresente? Os jornais terão evoluído para jornais digitais maleáveis e continuarão a ser vendidos em banca? A ideia é que nos enviem objectos, explicando por que acham que ele irá desaparecer, manter-se ou evoluir.

A missão dos jornalistas é ajudar a retratar o presente, da geopolítica às questões religiosas e aos desafios tecnológicos e científicos que se colocam hoje em Portugal e no mundo. Para isso, serão ainda incluídos artigos, fotografias e vídeos que sejam reveladores e eloquentes a respeito da sociedade actual, assim como o jornal do dia em que a cápsula for enterrada.

Os críticos do Ípsilon seleccionarão quatro livros, quatro álbuns e quatro filmes, representativos da cultura portuguesa em 2015. Mas só um de cada será incluído na cápsula. A escolha será feita pelos leitores do PÚBLICO, através de um inquérito online.

Sendo uma das mais relevantes empresas portuguesas, a EDP contribuirá para a cápsula com um objecto que sirva como uma espécie de bitola tecnológica, que ajudará a aferir do desenvolvimento alcançado em 25 anos – um objecto que, em 2015, é tecnologia de ponta e é de uso corrente na empresa. Será obsoleto em 2040? Há quanto tempo?

Cápsulas do tempo?
As cápsulas do tempo são uma forma controlada de arqueologia. Seleccionamos objectos, documentos ou artefactos que sejam demonstrativos do tempo e do local em que vivemos, enterrámo-los dentro de uma caixa, normalmente num local assinalado, e marcamos uma data para recuperar e redescobrir tudo (objectos e a época que representam) anos mais tarde.

Oficialmente, a primeira é de 1936. Está na Universidade Oglethorpe, em Atlanta, Estados Unidos da América. Apesar de os seus obreiros não a terem designado como cápsula do tempo, mas “Cripta da Civilização”, o livro de recordes do Guinness reconhece-o como o projecto pioneiro do género – isto é, “a primeira tentativa bem-sucedida para enterrar um registo desta cultura para quaisquer habitantes futuros ou visitantes do planeta Terra”.

A prática informal e não divulgada é muito anterior, mas o século XX foi profícuo neste tipo de empreendimentos. A Sociedade Internacional de Cápsulas do Tempo estima que existam entre 10 mil e 15 mil cápsulas no mundo. Os seus especialistas acreditam, no entanto, que cerca de 80% estejam perdidas ou tenham sido esquecidas, e não serão abertas na data prevista.

Uma das cápsulas que estão por encontrar é que se crê que esteja na pedra angular do Capitólio norte-americano, ali posta por George Washington, em 1793. Isto porque o primeiro Presidente dos EUA era maçon e o conceito das cápsulas do tempo tem origem na maçonaria, cujos membros escondiam documentos e objectos precisamente nas fundações de edifícios.

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