Ministro diz que não se consegue fazer mais cirurgias por falta de anestesistas

O ano passado, os hospitais e centros de saúde fizeram mais actos médicos.

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O ministro Paulo Macedo "não deu nem dará por terminadas as iniciativas de chamar os sindicatos à razão" Enric Vives-Rubio

O número de cirurgias feitas nos últimos anos no âmbito do Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem vindo a crescer mas atingiu um limite. A informação foi avançada pelo ministro da Saúde, que disse que a falta de anestesistas no país não permite que os hospitais continuem a aumentar o número destes actos cirúrgicos, tanto em ambulatório como em internamento.

Paulo Macedo, que falava nesta terça-feira durante a conferência “Sustentabilidade na Saúde”, organizada pela TSF e pela farmacêutica AbbVie, citou dados relativos a 2014 que mostram que os hospitais e centros de saúde fizeram mais actos médicos. “O que nós vemos é que o número de actos médicos aumentou, o número de cirurgias aumentou, o de consultas aumentou, o de internamentos baixou ligeiramente porque temos mais cirurgia de ambulatório”, reforçou o ministro.

No entanto, segundo Macedo a tendência de crescimento não poderá ser mantida. “Não nos iludamos, o número de cirurgias não continuará a aumentar por causa essencialmente não de blocos operatórios, não de financiamento, não de cirurgiões, mas porque não há anestesistas”, explicou.

Na conferência, o ministro aproveitou para defender que tem dado mais meios à saúde do que os seus antecessores. “Em termos de hospitais, o que aconteceu foi que durante o período de 2011 a 2014, através de financiamento por regularização de dívidas, conversão de dívidas em capital e aumentos de capital, o valor disponibilizado aos hospitais foi maior do que nos anos anteriores”, disse Macedo, que citou como exemplo o financiamento adicional de 150 milhões de euros ao Centro Hospitalar do Algarve e de 200 milhões para o município de Setúbal.

Já em declarações aos jornalistas, Paulo Macedo adiantou algumas explicações sobre esta carência, lembrando que a tutela contrata todos os clínicos disponíveis. “Chegámos aí devido a uma falta de planeamento e restrições no acesso a idoneidades para qualificação e planos de formação que não acautelaram esses aspectos”, acrescentou, sublinhando que há mais áreas com problemas, como a radiologia e a medicina geral e familiar.

Sobre a sustentabilidade do sistema de saúde, Paulo Macedo defendeu que, a par do controlo da despesa e das dívidas, é igualmente importante reduzir a carga de doença na população. Para isso, o ministro considera fundamental tomar medidas em áreas como o consumo excessivo de álcool, o tabagismo e a alimentação. Aos jornalistas o titular da pasta da Saúde disse que espera rever a lei do álcool ainda antes do fim do mandato, podendo as mudanças passar pelo aumento da idade legal para consumo, por alterações nas regras dos espaços que disponibilizam este tipo de bebidas e ao consumo na rua. Quanto ao aumento do preço, Macedo rejeitou essa via, por já ter sido tomada em sede de Orçamento do Estado.

Durante a conferência foi ainda apresentado um estudo realizado pela NOVA Information Management School, feito no âmbito do projecto europeu Saúde Sustentável, que aponta para que os portugueses reconhecem a eficácia do SNS, ainda que 10% tenham respondido que não foram ao médico ou não fizeram alguns exames por falta de capacidade financeira. Paulo Macedo reconheceu que com a actual crise alguns portugueses têm dificuldades em responder às suas necessidades, mas preferiu destacar como “extremamente positivo” que “depois dos três piores anos da maior crise” se consigam indicadores semelhantes a 2009 em termos de satisfação e confiança dos utentes.

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