Bruxelas desagradada com polémica "que não contribui em nada"

Porta-voz da Comissão Europeia confirmou a recepção das queixas de Portugal e Espanha, mas explica que o papel deste órgão é "mediar", não tomar partido.

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Jean-Claude Junker não quer ser posto na posição de ter que tomar partido AFP

A Comissão Europeia não gostou de se ver envolvida na polémica entre Lisboa, Madrid e Atenas, depois de no domingo os governos português e espanhol terem apresentado queixa ao executivo comunitário sobre os comentários de Alexis Tsipras. O primeiro-ministro grego acusou no sábado Espanha e Portugal de terem tentado minar, por razões eleitorais, o acordo no Eurogrupo sobre a Grécia.

Mina Andreeva, porta-voz da Comissão Europeia, confirmou esta segunda-feira que Bruxelas recebeu no domingo as queixas do governo português e espanhol sobre os comentários de Tsipras. No entanto, esquivou-se a tomar posição, insistindo que a Comissão tem um papel de "mediador entre as diferentes partes", e insistindo na importância da Grécia cumprir os seus acordos com o Eurogrupo.

"O que importa agora para além de quaisquer declarações públicas é que a Grécia implemente os seus compromissos de reformas, o que será fundamental para a conclusão a avaliação e a recuperação da economia grega", disse Andreeva.

Quando questionada sobre se os Tratados europeus previam alguma reação da UE em caso de comentários ofensivos entre chefes de governo de Estados Membros, a porta-voz da Comissão Europeia apenas relembrou que "existe um artigo sobre a liberdade de expressão."

No entanto, uma fonte na Comissão Europeia explicou que o executivo comunitário tem estado em contacto constante com os três governos, pedindo a todos os lados que os "comentários em público sejam mais moderados". A prioridade é evitar que estas declarações não comprometam o acordo para estender os empréstimos à Grécia e evitar a bancarrota do país: "Abrir batalhas públicas nos media não contribui nada para o processo todo."

Acrescentou que a Comissão sabe que tanto Portugal como Espanha também passaram por um "difícil ajustamento"  e que há dificuldades acrescidas em "comunicar sobre estes assuntos a nível doméstico."

É claro, todavia, que o desagrado de Bruxelas estende-se também à atitude dos governos espanhol e português, tendo a mesma fonte confirmado que o pedido dos países ibéricos era mesmo de condenar publicamente os comentários de Tsipras. Colocando assim numa posição delicada o Presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker.

"Se Juncker é agora solicitado enquanto Presidente da Comissão Europeia a tomar publicamente parte por um lado ou o outro, é muito complicado, porque não queremos tornar ainda mais difícil um processo que já é difícil." "O que não quer dizer que concordemos com os comentários em questão", concluiu esta fonte.

Jean-Claude Juncker encontra-se na quarta-feira em Madrid com Passos Coelho e Mariano Rajoy, num encontro onde também participa o Presidente francês, François Hollande.

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