De Barcelos para o Rio de Janeiro

O gigantesco Galo de Barcelos de Joana Vasconcelos iluminará o Rio de Janeiro nos 450 anos daquela que já foi a maior cidade portuguesa do mundo. A festa começou este sábado à noite

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Será difícil começar, para não dizer impossível, quando se trata de uma efeméride como o Rio de Janeiro: aos 450 anos, já é tanto a metrópole dos operários electrocutados em seu nome (uma das últimas vítimas: Stanley Silva, 35 anos, operário, morreu no estaleiro do Museu do Amanhã com que a prefeitura pretendia celebrar mais o futuro do que o passado do Brasil) como das escandalosas favelas que só recentemente começaram a figurar nas telenovelas da Globo. Transversal, o programa de comemorações posto em marcha pelo Comité Rio450, liderado pelo diplomata Marcelo Calero, quis celebrar todas as vidas da vida da cidade, e a festa começou sábado à noite com um mega-concerto gratuito na Quinta da Boa Vista: Caetano, Gil, Martinho da Vila, Ana Carolina e Marcelo D2, entre muitos outros, cantaram o Rio de Janeiro das escolas de samba e da bossa-nova, do hip-hop e da MPB, antes do som e da fúria de um gigantesco fogo-de-artifício.

É muito, é pouco, é o que é: até ao final de ano, largas dezenas de acontecimentos marcarão mensalmente o aniversário do Rio de Janeiro, do desporto aos seminários, da música aos festivais, das grandes exposições como aquela que o Instituto Moreira Salles organizará em Dezembro em torno do acervo de Millôr Fernandes, um dos seus mais infatigáveis cronistas, à edição especial da Bienal do Livro, do 30.º aniversário do Rock In Rio, enorme manifestação de rua, aos pequenos actos de teatro e performance que ocuparão várias casas da cidade, do Leblon a Santa Cruz, das favelas aos condomínios da classe A. 

Fundado por Estácio de Sá a 1 de Março de 1565, o Rio de Janeiro já foi a maior cidade portuguesa do mundo. Justamente por isso, o Comité Rio450 quis integrar Portugal nas comemorações, razão que trouxe Marcelo Calero a Lisboa para três dias de contactos institucionais no final do ano passado. Com os seus sete metros de altura, o Pop Galo de Joana Vasconcelos, que simbolicamente chegará à Praia do Leme no próximo 10 de Junho, será a manifestação mais visível do "engajamento" português na grande festa carioca. A peça de fibra de vidro, que entrará esta semana em produção numa unidade de Torres Vedras, será depois revestida com azulejos Viúva Lamego especialmente desenhados pela artista e electrificada com LED: uma luz no escuro da noite do Rio, pelo menos até ao final do ano.

"Todo o material do Pop Galo é português e foi concebido de propósito para esta peça. Quando estiver pronta, será transportada por via aérea ou marítima até ao lugar onde ficará instalada, não sabemos ainda até quando. O destino do Pop Galo dependerá muito da receptividade da cidade e dos habitantes, e da sua capacidade para criar um discurso com a envolvente", diz Joana Vasconcelos ao PÚBLICO. Mas ela, que estará lá para o receber quando o Pop Galo desembarcar do outro lado do Atlântico, gostaria que ficasse ali para sempre. 

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