Os cinco séculos do imortal

Uma longa de animação brasileira para adultos que vale mais do que apenas a curiosidade.

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Que o cinema brasileiro está num fervilhante momento de renovação já não é novidade, com uma nova geração pós-Meirelles, Padilha ou Salles a dar cartas – mas os filmes “que interessam” não têm chegado ao circuito comercial, ficando-se pelo circuito de festivais (Renata Pinheiro, Adirley Queirós) ou por lançamentos quase confidenciais ou limitados (Eduardo Coutinho, Júlio Bressane).

O que torna ainda mais peculiar a chegada às salas, mesmo que numa estreia de pequena dimensão, de Uma História de Amor e Fúria, longa de animação destinada a um público adulto, numa estética que deve muito a Frank Miller. O filme de Luiz Bolognesi percorre quatro períodos da história do Brasil, da chegada dos conquistadores portugueses a um futuro corporativo onde a água é o bem mais precioso, pelos olhos de um imortal oriundo de uma tribo indígena que se vê envolvido na luta recorrente contra os interesses colonizadores e capitalistas, reencontrando a cada volta a mulher da sua vida. O defeito principal de Uma História de Amor e Fúria – que estreia entre nós com o seu título internacional, Rio 2096 – é o relativo convencionalismo da animação, competente mas sem sinais particulares, mesmo que se perceba o cuidado da produção em diferenciar em termos de tom e traço os vários momentos temporais. O trabalho de som e a eficácia (algo didáctica, é certo) da narrativa não conseguem compensar a sensação de um projecto mais ambicioso do que os meios do que dispôs, mas que também não se fica pela mera curiosidade inconsequente.

 

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