Indústria adapta máquinas a sacos de plástico mais grossos

Associação da indústria de plásticos prevê aumento do consumo de sacos do lixo, como aconteceu na Irlanda.

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A APIP estima que haja entre 60 a 70 fabricantes de sacos de plástico em Portugal Miguel Manso

A introdução da taxa sobre os sacos de plástico está a levar muitos fabricantes a reorientarem a produção, ajustando a maquinaria às alternativas pensadas pela grande distribuição para contornar o novo imposto.

Como os hipermercados estão a apostar em sacos mais grossos, isentos da nova taxa, e os próprios fabricantes estão a propor ao pequeno comércio que passem a fazer o mesmo, as empresas que até aqui concentravam a produção em sacos leves vêem-se obrigadas a fazer investimentos para adaptar as cabeças das máquinas para produzir mais sacos com espessura acima de 50 microns (não abrangidos pela taxa).

Isabel Ferreira da Costa, directora da Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (APIP), diz que há empresas que enfrentam dificuldades, porque foi dado pouco tempo de adaptação e “não têm dinheiro à mão de semear para fazer investimentos imediatos”. “Muitas empresas não dispõem do capital suficiente para comprar novo material”, adverte a responsável, alegando que o sector teve um mês para se ajustar a uma nova realidade, quando para obter novas peças ou novas máquinas pode levar meses.

O Governo anunciou em Outubro o lançamento da nova taxa para o início de 2015, mas só no último dia de Dezembro confirmou que daí a 30 dias a medida entraria em vigor, havendo depois mais 15 dias até começar a ser cobrada a taxa ao consumidor final.

A directora APIP acusa o ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, Jorge Moreira da Silva, de não ter ouvido as reivindicações do sector, nomeadamente quando a indústria pediu mais tempo para se adaptar, atribuindo a entrada em vigor das novas regras em Fevereiro à “pressão de se conseguir receita com a reforma da fiscalidade verde”.

Se uma das consequências imediatas da nova taxa é a menor procura de sacos leves, por outro lado, o sector quer contrabalançar as perdas com um acréscimo de produção de sacos mais grossos e, prevê a APIP, com um aumento nos sacos do lixo. No entanto, mesmo com a reorientação das vendas, Isabel Ferreira da Costa admite que o sector venha a assistir a uma quebra de facturação de 20 a 30% este ano. “As principais penalizadas vão ser pequenas e médias empresas (PME)”, antecipa.

A Macar, empresa especializada no fabrico  de artigos de plástico, já estava mais vocacionada para a comercialização de sacos com uma espessura superior a 0,05 milímetros. Da “pequena parte” da produção de sacos leves, a empresa apenas vai manter o fabrico de embalagens destinadas às exportação e às ilhas (não abrangidas pela nova taxa), refere Manuel Carneiro, director-geral da empresa. Aos clientes para quem ainda produzia os sacos de asas leves, esta empresa de Santo Tirso propôs que passassem a comprar os sacos mais grossos. “Pura e simplesmente rejeitámos fabricar os sacos sujeitos à nova taxa”, garante Manuel Carneiro.

A directora da APIP – que estima haver entre 60 a 70 fabricantes de sacos de plástico no país – diz que o sector não está contra as medidas ambientais da reforma verde, mas teme que o resultado da nova taxa venha a ser até o contrário às recomendações europeias no sentido de se reduzir a quantidade de matéria-prima no fabrico dos sacos, “esforço que o sector tem vindo a fazer nos últimos anos”.

Isabel Ferreira da Costa acena com o exemplo da Irlanda, onde a tributação lançada em 2002 levou a uma redução de 90% no consumo de sacos de plástico, mas fez com que o consumo de sacos de lixo aumentasse 400%, segundo um relatório da Agência de Protecção Ambiental do país, feito três anos depois da medida ser lançada.

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