Morreu Carl Djerassi, um dos pais da pílula

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Paulo Pimenta/Arquivo

O químico norte-americano Carl Djerassi, um dos pais da pílula contraceptiva, morreu na noite de sexta-feira para sábado, aos 91 anos.

De origem austríaca, o químico nasceu em Viena a 29 de Outubro de 1923, filho de pai búlgaro, um dermatologista, especialista em doenças sexualmente transmissíveis, e de mãe austríaca, médica dentista, foi perseguido devido às suas origens judaicas e acabou por fugir para os EUA com a mãe.

O cientista era dramaturgo e também autor de poesia e romances – esteve em Portugal para a apresentação de uma das suas peças, em 2006 – aquilo a que ele chamava "science in fiction" e cinco anos depois regressou, tendo recebido o título honoris causa pela Universidade do Porto. Fez descobertas que permitiram desenvolver o primeiro contraceptivo oral. Contribuiu também para a síntese da cortisona, empregue em numerosos tratamentos médicos.

A pílula nasceu por mero acaso. Os cientistas conseguiram produzir uma forma sintética da hormona feminina progestorena num laboratório mexicano, a partir de uma espécie de inhame daquele país. Mas a última coisa que estavam a pensar fazer era produzir um contraceptivo seguro e eficaz. O objectivo era produzir mais medicamentos de uma nova classe terapêutica, os chamados esteróides. Talvez um produto para tratar dores menstruais ou problemas de infertilidade. Não um comprimido que impedisse a ovulação feminina e, desta forma, actuasse como um contraceptivo. Mas foi assim que a molécula isolada pela equipa de Carl Djerassi e Russel Marker foi comercializada, nove anos mais tarde. 

Ou seja, a pílula nasceu por mero acaso – e a sua paternidade é um bocado confusa: foi uma outra equipa, liderada pelo endocrinologista Gregory Pincus, que demonstrou as possibilidades da molécula noretindrona10. Pincus era apoiado financeiramente por duas norte-americanas que se destacaram na defesa do planeamento familiar, Margaret Sanger e Katharine McCormick, e estava à procura do "preservativo perfeito". Independentemente, um outro cientista – Frank Colton – chegou aos mesmos resultados naquela altura.
 
Djerassi foi também um grande coleccionador de arte, tendo uma das mais importantes colecções de pintura do alemão Paul Klee (1879-1940), a qual legou aos museus de arte moderna de São Francisco, nos EUA, e de Albertina, em Viena.

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