Portugal não é a Grécia, mas…

Discutir o que se passa hoje na Grécia é discutir o que se pode passar amanhã em Portugal.

Esta quarta-feira no Parlamento, no período das declarações políticas, a Grécia foi o tema escolhido. Foram alguns minutos bastante confrangedores para quem esteve a assistir ao debate; e os nossos deputados chegaram ao ponto de estar a discutir a inexistência de mulheres na composição ministerial do novo Governo grego e o facto de Alexis Tsipras ter escolhido um partido de direita e não um de esquerda como parceiro de coligação. São dois temas que terão com certeza a sua relevância para os gregos, mas é completamente despropositado discuti-los no Parlamento nacional.

Sobre o que podem representar as eleições de domingo no futuro da Europa o debate foi pobre. Viu-se a esquerda a tentar “colar-se” à vitória de Syriza e a endeusar as promessas de Alexis Tsipras de criar uma Europa sem austeridade. E os partidos da direita apareceram com uma visão punitiva em relação aos gregos, considerando, de uma forma também despropositada, que eles "sofrem, porque vão ter de passar por mais agruras, precisamente por não terem cumprido os resultados".

É preciso que o país discuta o que se passa hoje na Grécia, mas fora do campo da luta partidária; até porque muitos dos problemas da Grécia (elevado endividamento, crescimento anémico e necessidade de reformas estruturais) são os problemas de Portugal, embora numa escala e num contexto diferentes.

Numa altura em que, por exemplo, está lançado o debate sobre a necessidade (ou não) de uma reestruturação da dívida pública em alguns países, o Governo irlandês, sem descurar a necessidade de continuar a haver disciplina orçamental, veio apoiar a ideia de Alexis Tsipras de realizar uma cimeira europeia para debater o tema. Qual é a posição do Governo português sobre este assunto? E quais são as soluções propostas pelos partidos da oposição, caso sejam chamados a dar o seu contributo? Um vazio de ideias.

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