Astrofísico ganha 1,5 milhões de euros para estudar as equações de Einstein

Conselho Europeu de Investigação (ERC) atribui a segunda bolsa a Vítor Cardoso, do Instituto Superior Técnico, em Lisboa.

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Vítor Cardoso Ana Sousa

O supercomputador Baltasar Sete-Sóis, do grupo de investigação de Vítor Cardoso, no Instituto Superior Técnico de Lisboa (IST), vai ter umas remodelações para ficar ainda mais potente. E depois, tal como tem acontecido desde 2010, vai ser utilizado para aprofundar o estudo das equações de Einstein – uma investigação possível graças a uma nova bolsa, de 1,5 milhões de euros, que Vítor Cardoso acaba de ganhar do Conselho Europeu de Investigação (ERC, na sigla em inglês).

Investigador do Centro Multidisciplinar de Astrofísica (Centra) IST, Vítor Cardoso recebeu a primeira bolsa do ERC em 2010, no valor de um milhão de euros. Esse dinheiro tornou então possível o estudo dos segredos das equações de Einstein, incluindo os segredos sobre os buracos negros, e permitiu a compra do supercomputador, no valor de cerca de 100 mil euros.

Por exemplo, no ano passado, depois de uma série de cálculos complexos, a sua equipa concluiu que podemos estar descansados, pois afinal não vamos ser devorados por um buraco negro – um monstro supermaciço, com uma força gravítica tremenda, que suga tudo o que está à volta e não deixa escapar nem matéria nem a luz, uma vez lá caídas. Estrelas como o Sol, planetas como a Terra ou até astros mais pequenos como asteróides não irão assim transformar-se em buracos negros, mesmo que estivéssemos dispostos a esperar pacientemente milhões e milhões de anos.

Agora, Vítor Cardoso vai utilizar a nova bolsa de 1,5 milhões de euros para prosseguir este tipo de estudos, para mais quando em 2015 se completam 100 anos da Teoria da Relatividade Geral de Einstein. Por outras palavras, o investigador vai continuar a pegar nas equações de Einstein na Teoria da Relatividade Geral e procurar resolvê-las, para encontrar soluções que descrevam matematicamente os buracos negros. E isto é tarefa digna de um supercomputador, como o astrofísico já tinha explicado no ano passado ao PÚBLICO: “As equações da relatividade são tremendamente complicadas de resolver e têm muitas soluções – tal como a ‘fórmula’ da biologia dá origem a muitos seres vivos diferentes. Só muito recentemente, a começar em 2005 ou 2006, é que conseguimos perceber como conseguir pôr os computadores a resolver as equações, em situações muito complexas.”

A Teoria da Relatividade Geral também contém a previsão de que, pouco depois do início do Universo, criado pelo Big Bang, há 13.800 milhões de anos, a sua expansão abrupta produziu ondulações no espaço-tempo – as chamadas “ondas gravitacionais”. Em 2014, anunciou-se a detecção directa pela primeira vez destas ondas, que seriam as provas da inflação inicial do Universo, além de confirmarem uma das previsões contidas na Teoria da Relatividade Geral. Mas análises posteriores aos dados observacionais têm concluído que essa detecção não terá passado de uma miragem e que, na realidade, uma parte do sinal detectado se deve a poeiras da nossa própria galáxia.

Desilusões mundiais à parte, Vítor Cardoso também tenciona olhar para as ondas gravitacionais, só que do ponto de vista teórico, com o seu supercomputador. E, também, para a matéria escura, matéria que ninguém vê, que ninguém sabe o que é, mas que muitos cientistas dizem que existe e que pode ser detectada de modo indirecto devido aos efeitos gravitacionais que provoca à sua volta.

“Num ano em que é celebrado o centenário das equações de Einstein, esta bolsa vai ser usada para investigar as equações de Einstein e o potencial de buracos negros e das ondas gravitacionais para nos ensinarem mais acerca do Universo”, diz agora o astrofísico a propósito da nova bolsa. “O objectivo é continuar os estudos com o Baltasar Sete-Sóis, que vai sofrer uns retoques para ficar mais poderoso, e tentar também perceber matéria escura usando física de buracos negros.”

Tanto quanto Vítor Cardoso sabe, é dos poucos físicos europeus galardoados duas vezes com uma bolsa desta grande entidade de financiamento da ciência na Europa. “Não conheço mais nenhum físico europeu com duas bolsas ERC.”

E agora o nome do supercomputador: inspira-se em Baltasar Mateus, o Sete-Sóis, personagem de José Saramago em Memorial do Convento. Tal como Baltasar, o Sete-Sóis, ajudou o padre Bartolomeu Lourenço a construir o sonho de uma máquina voadora, a passarola, espera-se que o supercomputador contribua para o sonho humano de avanço do conhecimento. É a máquina que Vítor Cardoso espera que contribua para a resolver as equações de Einstein.
 

Notícia corrigida às 12h05 de 28 de Janeiro: o valor da bolsa é de 1,5 milhões de euros.

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