Administrador judicial considera insolvência da Moviflor culposa

Dívidas da empresa rondam os 135 milhões de euros, 19 milhões dos quais aos trabalhadores. Credores avançam para a venda de património.

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Móveis da Moviflor estão à venda numa antiga loja da cadeia na Bobadela

A insolvência da Moviflor foi considerada culposa pelo administrador judicial que está a acompanhar o processo da empresa de mobiliário. Caso venha a ser qualificada desta forma pelo tribunal, os donos da Moviflor arriscam-se a não poder ter qualquer actividade comercial durante um período de dois a dez anos, ou a ocupar cargos de direcção numa empresa pública ou privada, além de terem de pagar uma indeminização aos credores.

Durante a primeira reunião da comissão de credores - composta por representes do Banif, BCP, a Autoridade Tributária, trabalhadores e fornecedores – Pedro Ortins de Bettencourt foi autorizado a avançar para a venda do património que resta da empresa de mobiliário e vai organizar um leilão dos móveis, a maior parte de exposição e com baixo valor comercial. Ao mesmo tempo, apresentou um “relatório de qualificação da insolvência, considerando-a culposa”.

“Tanto quanto me parece deverão ter sido entregues outros pareceres [de qualificação da insolvência], até porque houve quem me pedisse elementos para fazer os seus próprios pareceres”, adiantou. De acordo com Lídia Oliveira, que representa os trabalhadores na comissão, há pelo menos mais dois pedidos de gestão culposa em curso.

Tal como o PÚBLICO noticiou, os donos da Moviflor retiraram material da empresa que posteriormente colocaram à venda num estabelecimento com o nome Outlet de Móveis, que pertence à IFC e está localizado na Bobadela, onde antes existia uma loja da cadeia de mobiliário. Este estabelecimento é propriedade de um accionista da Moviflor.

Os produtos foram vendidos à IFC por 20% do seu valor, o que equivale, pelos dados avançados por Pedro Bettencourt, a cerca de 468 mil euros. Contudo, nas guias de transporte que comprovam esta transacção o montante que consta é de apenas 180 mil euros. E todos estes números estão muito distantes do valor contabilístico do material: 1.902.603 milhões de euros.

A diferença abissal de montantes é explicada com a descida do valor de mercado da mercadoria, a maior parte de exposição. O gestor judicial admite que, apesar de escasso, o valor a que os móveis foram vendidos até era equilibrado. O problema é que a administração da Moviflor “deu indicações para processar os pagamentos não para os credores, mas para a satisfação de créditos dos accionistas”. Ou seja, as receitas obtidas com esta venda foram imputadas nas contas correntes de um accionista (Carlos Coelho, filho da fundadora), “favorecendo um credor relativamente a todos os outros”.

Há ainda dúvidas quanto à forma como a Moviflor comprava as suas lojas. Alguns destes imóveis estão em nome dos filhos da fundadora, mas foram pagos com verbas da empresa.

O património susceptível de ser apreendido pela massa insolvente ultrapassa os 18 milhões de euros. Lídia Oliveira adianta que a maior parte dos imóveis está na posse dos bancos e com contratos de locação por cumprir. A intenção é tentar vender a um preço que permita pagar a dívida e recuperar algum dinheiro para a massa de credores. “Há outras situações em que os bens são da Moviflor, mas estão cheios de hipotecas. O que resta é dar algum espaço de manobra ao administrador de insolvência para tentar vender por um valor acima das dívidas”, continua.

A Moviflor deve cerca de 135 milhões de euros aos seus credores, 19 milhões dos quais aos trabalhadores. Agora, cabe ao tribunal reconhecer os créditos totais e determinar quem deve ser pago em primeiro lugar. O administrador de insolvência acredita que a sentença vai demorar a ser proferida, até porque a lista “deverá ser impugnada por muitos que não viram os seus créditos reconhecidos”.

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