Tsipras anuncia Governo com Yanis Varoufakis como ministro das Finanças

Líder dos Gregos Independentes fica com a pasta da Defesa. Governo mais pequeno do que anterior, com 12 ministros, além do primeiro-ministro e do vice-primeiro-ministro.

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Yanis Varoufakis defende a reestruturação da dívida e a permanência da Grécia no euro Reuters

Dois dias depois das eleições gregas, Alexis Tsipras anunciou formalmente os nomes que compõem o novo Governo da Grécia. O grande destaque é Yanis Varoufakis, professor de Economia na Universidade de Atenas, que vai ser o ministro das Finanças, como o próprio já tinha anunciado numa rádio irlandesa e no seu próprio blogue.

“Ainda não foi anunciado, mas como estou a falar com os meus amigos irlandeses posso dizer que vai acontecer hoje”, confirmou Yanis Varoufakis à rádio irlandesa Newstalk.

O economista usou igualmente o seu blogue para confirmar que é o novo ministro das Finanças, avisando os seus leitores que agora escreverá com menos regularidade, mas prometendo compensá-los com informações privilegiadas.

Num post intitulado "ministro das Finanças abranda o blogging, mas não acaba com ele", Yanis Varoufakis escreve que foi aconselhado a acabar com o blogue. "O meu plano é desafiar este conselho. Vou continuar a escrever no blogue, mesmo que normalmente seja considerado irresponsável um ministro das Finanças entrar em formas tão grosseiras de comunicação. Naturalmente, os meus post serão menos frequentes e mais curtos. Mas espero compensar com opiniões, comentários e detalhes mais deliciosos".

A terminar este primeiro post como ministro das Finanças, o economista defende que "para recuperar a esperança" é preciso mudar os hábitos do "passado sombrio": "Manter uma linha aberta com o mundo exterior pode ser um pequeno passo nessa direcção", finaliza o novo ministro.

Já nas declarações à rádio irlandesa, Varoufakis deixou uma mensagem aos outros europeus. "Como próximo ministro das Finanças, posso assegurar que não vamos ao Eurogrupo procurar uma boa solução para os contribuintes gregos e uma má para os contribuintes irlandeses, eslovacos, alemães, franceses e italianos." Crítico da entrada da Grécia na moeda única, em 2001, considera que a saída do euro seria agora muito prejudicial para a economia do país, mas assegura que a austeridade não é o passaporte que permitirá a Atenas manter-se na zona euro.

O novo ministro das Finanças, de 53 anos, foi uma das 74 personalidades estrangeiras que subscreveram o manifesto pela reestruturação da dívida portuguesa, lançado em Março de 2014 por vários políticos (de Manuela Ferreira Leite a Francisco Louçã), empresários, sindicalistas, académicos e constitucionalistas.

Varoufakis elaborou, com Stuart Holland, uma Modesta Proposta para Resolver a Crise da Zona Euro, apoiada, entre outros, por Jacques Delors, Giuliano Amato, Felipe González e Guy Verhofstadt, para só falar nos ex-responsáveis políticos mais conhecidos. A reestruturação da dívida é um dos pilares da publicação.

Catalogado pelo Guardian como "economista radical", Varoufakis tem sublinhado a sua oposição à austeridade, que já qualificou como “waterboarding orçamental” – waterboarding é uma técnica de tortura usada pelos militares norte-americanos no presídio de Guantánamo que simula afogamento.

“Vamos destruir a base sobre a qual foi construído, década após década, um sistema, uma rede, que viciosamente suga toda a energia e todo o poder económico de todas as outras pessoas na sociedade”, disse à televisão britânica Channel 4 ainda antes das eleições, definindo como prioridades o desmantelamento dos privilégios dos oligarcas, uma resposta à "crise humanitária" em que vive boa parte da população e a renegociação da dívida pública do país.

Comentador assíduo nas redes sociais e nas televisões, conhecido tanto pelas suas frases afiadas como pela preferência por jeans e camisas coloridas, Varoufakis estudou no Reino Unido e foi professor na Austrália e nos Estados Unidos, só tendo abandonado a posição que ocupava na Universidade do Texas em vésperas das eleições, aceitando um convite de Tsipras para se candidatar ao Parlamento, recorda a Reuters.

Recentemente definiu-se como "um teólogo ateu enclausurado num mosteiro da Idade Média", numa metáfora da sua oposição às teorias económicas que defendem o rigor orçamental e a liberalização da economia como remédio para a crise. A receita, escreveu no seu blogue quando anunciou a candidatura ao Parlamento, não passa "de uma transferência cínica dos prejuízos dos bancos para os ombros dos contribuintes mais frágeis".

Parceiro de coligação fica com a pasta da Defesa
Já depois da fuga propositada de informação de Varoufakis, foram anunciados os nomes de todos os ministros do Governo liderado por Alexis Tsipras, destacando-se a existência um vice-primeiro-ministro, cargo que será ocupado por Giannis Dragasakis. Segundo o El País, vai supervisionar as áreas económicas e será ele o responsável pelo diálogo com a troika de credores internacionais.

O líder do partido Gregos Independentes, cujo apoio permite formar um executivo de maioria, fica com a pasta da Defesa.

O jornal Ekathimerini diz ainda que, ao abrigo do acordo de coligação, o Syriza evitará mexer em assuntos sobre os quais os Gregos Independentes têm objecções, como chegar a um acordo com a Macedónia por causa do nome da ex-república jugoslava ou avançar com a separação entre Estado e Igreja.
 

O Governo Tsipras

Primeiro-ministro: Alexis Tsipras
Vice-primeiro-ministro: Giannis Dragasakis
Ministro das Finanças: Yanis Varoufakis, professor de Economia da Universidade de Atenas
Ministro dos Negócios Estrangeiros: Nikos Kotzias, professor de Estudos Europeus na Universidade de Piraeus
Ministro da Defesa: Panos Kammenos, líder do Partido Gregos Independentes
Ministro do Desenvolvimento (inclui Economia, Infra-estruturas, Assuntos Marítimos e Turismo): Giorgos Stathakis, professor de Economia
Ministro do Interior e da Reestruturação Administrativa: Nikos Voutsis
Ministro da Produção, Ambiente e Energia: Panayiotis Lafazanis, líder da plataforma de esquerda eurocéptica que integra o Syriza)
Ministro da Cultura, Educação e Assuntos Religiosos: Aristides Baltas
Ministro do Emprego: Panos Skourletis
Ministro da Saúde e da Segurança Social: Panayiotis Kouroublis
Ministro da Justiça: Nikos Paraskevopoulos
Ministro de Estado para a luta contra a corrupção: Panayotis Nikoloudis
Ministro de Estado (chefe de gabinete): Nikos Pappas

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