Gregos votam sem acreditar “em nenhum Messias”

Esta é "a eleição mais importante desde 1974”, quando acabou o regime dos coronéis, diz um estudante de ciência política. Mas numa eleição tão polarizada, há quem não encontre uma opção que considere suficientemente boa.

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Numa eleição tão polarizada, há quem não encontre uma opção que considere suficientemente boa Miguel Manso
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Antigoni e Anna, avó de 88 anos e neta de 30, vêm votar à escola de Grava, em Atenas. Quer dizer: Anna traz a avó antes de ir ela ao seu local de voto.

“Não vamos escolher a mesma coisa”, confessa: A avó, Nova Democracia, ela… “Ainda não sei. Talvez Syriza.” Nas últimas eleições, em 2012, Anna, que trabalha numa empresa de logística, “cortou com a família, com os pais”, e votou no Partido Comunista. “Não concordo com eles, mas estava tão zangada.” Agora continua zangada, mas hoje diz, a rir: "Nem acredito que votei neles”. Daí, suspira…“talvez o Syriza”.

Katja, 35 anos, reage à pergunta sobre em quem votou: “Será que em Portugal vão perceber o meu voto?” A professora de inglês esteve sem saber em que ia votar até entrar na assembleia de voto. “Quer dizer, vinha com uma inclinação, mas não sabia”. Lá se decidiu pelo Syriza (Coligação de Esquerda Radical), o principal partido de oposição que se espera que vença as eleições e hoje. “Estava a haver alguma confusão na assembleia de voto, não me deram os papéis todos” – na Grécia, os eleitores recebem um boletim de cada partido e um em branco, metem no envelope o que escolheram, e levam os que sobram para casa. “Faltava o do Syriza”, conta. “Acho que não foi um acaso faltar esse. Fiquei indignada - e foi essa a confirmação para votar neles.”

Greg vem votar com um autocolante da Nova Democracia ao peito. “Claro que escolhi a Nova Democracia”, o partido do primeiro-ministro Antonis Samaras. “É melhor do que o outro, mais razoável”, garante. “Este país está numa posição muito difícil. É a eleição mais importante desde 1974”, quando acabou o regime dos coronéis, diz o estudante de ciência política.

Numa eleição tão polarizada, há quem não encontre uma opção que considere suficientemente boa. “Como os partidos e os candidatos dependem do círculo, e no meu círculo não havia nenhum dos mais pequenos em que votaria, acabei por votar em branco”, diz Vasiliki, 32 anos, que está a tirar um segundo curso e um primeiro mestrado, um em terapia da fala e outro em educação de pessoas com necessidades especiais. “Antes isso do que estar a trabalhar e a ganhar menos de 400 euros”, comenta. “Bom, claro que continuo a viver com os meus pais.”

Apesar de preferir “uma mudança”, Vasiliki não acredita que o Syriza “consiga jogar bem o jogo para o melhor do país – não digo isto num sentido nacionalista”, apressa-se a esclarecer.

Votar contra os nacionalistas, a extrema-direita do partido Aurora Dourada, foi a principal preocupação de Eleftheria (nome que quer dizer liberdade), 37 anos, que está “a lutar para ser realizadora”. Escolheu um pequeno partido. “Não votava há muitos anos. Comecei a votar desde que Papandreou anunciou o memorando.” Quanto ao resultado das eleições, “não acredito em nenhum Messias”.

Com um ar desalentado, Kostas, 54 anos, sai da escola onde votou. “Desta vez custou-me mesmo decidir”, diz. “Esta é uma votação crucial, tive de pensar muito”, confessa. Eleitor do PASOK desde sempre, hesitou entre o seu partido e o rival, a Nova Democracia. “Quando a Nova Democracia e o Syriza estavam mais próximos, pensei votar Nova Democracia. Agora que a diferença é maior, optei pelo Pasok.” Mas já não tem certeza de nada. “O PASOK desfez-se. Não sei se fiz bem. Mas não sei o que irá acontecer. Pode ser que seja pelo pior, mas também pode ser que seja pelo melhor”, resume.

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