Jornalista condenado a 63 meses de cadeia por divulgar informação pirateada

Barrett Brown ficará 35 meses na cadeia para completar os mais de cinco anos de pena. Teme-se que sentença abra precedentes para jornalistas que usam hackers como fontes.

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Barrett Brown em 2007 Karen Lancaster

Há mais de dois anos na cadeia, Barrett Brown ficou a conhecer na quinta-feira a sua sentença final. Ao todo, este jornalista norte-americano terá de passar mais de cinco anos na prisão por ter divulgado informação pirateada, por ter impedido os polícias de fazerem investigação criminal e por ter ameaçado um agente do FBI num vídeo publicado na Internet.

Além de ter publicado em órgãos de comunicação como o jornal britânico The Guardian, o jornal norte-americano Huffington Post ou a revista norte-americana Vanity Fair, Barrett Brown, de 33 anos, ficou ligado ao grupo Anonymous – uma rede internacional de hackers –, divulgando as suas operações.

Em Setembro 2012, o FBI deteve o jornalista por ter alegadamente ameaçado um agente federal num vídeo que publicou no YouTube, explica o The Guardian. As sentenças somadas dos crimes que a acusação o imputou davam uma pena máxima de 105 anos.

Mas Barrett Brown confessou ser culpado pelas ameaças, por ter impedido a investigação feita pela polícia e ainda por ter divulgado um link onde havia informação pirateada da Stratfor, uma empresa de consultoria que dá informação geopolítica aos seus clientes. A confissão desceu a pena máxima para os dez anos.

Os anos que já passou na prisão estão incluídos na pena que agora ficou conhecida, além disso, o norte-americano terá de pagar mais de 890.000 dólares (794.000 euros) em restituições e multas.

Mas antes da audição de quinta-feira, o jornalista acusou o Governo por o ter processado numa conversa com a agência AFP. “O Governo ameaçou-me a décadas na prisão por copiar a colar um link de um documento que estava disponível publicamente que outros jornalistas também estavam a usar sem depois serem processados”, disse, citado pela BBC News.

Após saber o resultado da sentença, Barrett Brown reagiu com bom humor, num comunicado polvilhado com sarcasmo: “Boas notícias! – Já que fiz um trabalho tão bom a investigar a área ciber-industrial, o Governo dos Estados Unidos decidiu hoje enviar-me para a área da indústria prisional. Nos próximos 35 meses, vou ter comida, roupa e casa de graça, enquanto vou procurar expor a má conduta dos trabalhadores e dirigentes do Departamento das Prisões e, por outro lado, escrever sobre notícias e sobre cultura para o maior sistema prisional do mundo.”

Mas Kevin Gallagher, director da campanha Libertem Barrett Brown, tem as repercussões desta sentença. “Fiquei chocado e desapontado”, disse, citado pelo The Guardian, explicando que o resultado iria abrir um precedente negativo para os jornalistas. “Se alguém partilhar um link para material que está disponível publicamente sem saber o que está nesse link – poderá por exemplo conter informação roubada sobre cartões de crédito – poderá ser processado”, defende. “Qualquer jornalista que usa hackers como fontes está extremamente assustado com isto.” 

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