Apesar das dificuldades, a arte resiste

A fotografia parece ser o fio condutor do ano que começou, com um conjunto de exposições distribuídas por museus, espaços de arte e galerias, mas é a multiplicidade de propostas que marca a rentrée.

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Esta imagem Bahia, 1940, de Gautherot, faz parte da exposição Modernidades: Fotografia Brasileira que poderá ser vista na Fundação Gulbenkian Gautherot
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Uma selecção de esculturas de Monika Sosnowska estará em Serralves em Maio, Na imagem Facade
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Oskar Hansen: Forma Aberta

Um olhar transversal sobre as exposições que prometem marcar 2015 permite desde logo uma constatação. Como no ano passado, exposições de mestres modernistas ou antológicas de nomes que marcaram a arte dos últimos 40 anos continuarão ausentes da realidade portuguesa.

Este lamento não resulta de qualquer nostalgia pelos bons anos, exprime apenas um facto: para aquele público menos especializado, continuarão a faltar pontes, elos que lhe permitam dialogar, de um modo mais frutuoso e informado, com o presente. É uma pena, porque a educação passa pelo contacto com as grandes obras do passado. De outro modo, será sobretudo um privilégio para uma elite que circula entre continentes, países e museus internacionais.

Dito isto, o panorama que se avizinha é suficientemente rico para sossegar a tentação do pessimismo. Não faltam atalhos, possibilidades, descobertas. A programação de Serralves é exemplar dos múltiplos caminhos que a arte contemporânea pode oferecer, por exemplo na sua relação com os lugares e a arquitectura. É já na próxima semana que inaugura no museu portuense Oskar Hansen: Forma Aberta, exposição consagrada à evolução da teoria que o artista polaco concebeu no pós-guerra. Agregando projectos realizados dentro e fora do seu país natal, permitirá conhecer um percurso e uma obra influente, pela sua defesa da flexibilidade e da participação colectiva, na arquitectura, no urbanismo ou no filme experimental.

Também em diálogo com o espaço do museu, estará Arquitectonização (Fevereiro), selecção de esculturas de Monika Sosnowska, e em Maio o legado do Grupo KWY será revisitado a partir da colecção do museu. No mês seguinte, aguarda-se a exposição da francesa Yto Barrada que privilegiará os espaços da Casa de Serralves para discutir o espaço público, as cidades e a migração de ideias e pessoas. Mas a exposição que promete ser um dos acontecimentos de 2015 chama-se Sob as Nuvens: da Paranóia ao Sublime Digital. Comissariada por João Ribas, vai certamente expandir o debate para lá do mundo da arte, muito por causa das ideias e das implicações políticas e sociais que as suas obras carregam. E não, não se esqueceu Helena Almeida: em Outubro, a artista portuguesa vai entrar no museu com aquela que será a sua mais completa exposição. 

Desça-se agora até Lisboa, onde o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian inaugura, em Fevereiro, Antes e Depois, de Miguel Ângelo Rocha (com a curadoria de Nuno Crespo), Isto É Uma Ponte, do artista francês Bernard Frize e, no âmbito do Próximo Futuro, Modernidades: Fotografia Brasileira. São três momentos que “reúnem” e separam no espaço do CAM, escultura, pintura e fotografia, com origem em geografias, narrativas e preocupações distintas.

Até Novembro, o elenco composto pela equipa do CAM incluirá ainda António Charrua, Manuel Botelho, Hein Semke, Lourdes Castro, António Cruz, Willie Doherty e no que respeita a colectivas saliente-se Unplace — Um Museu sem Lugar (Junho), dedicada exclusivamente à arte digital.

Entretanto, a programação do Museu do Chiado continuará a demonstrar uma vitalidade admirável. Na instituição dirigida por David Santos, sobressaem três exposições: Hybridize or Disappear (Abril), comissariada por João Laia, Tesouros da Fotografia Portuguesa (Abril), com a curadoria de Emília Tavares e Margarida Medeiros e uma exposição em torno da Colecção Alberto Caetano (Julho).

Em Belém, o Museu Berardo desvela em Palmeiras Bravas (Fevereiro) obras inéditas de Pedro Barateiro e, depois de accionar  The Clock, de Christian Marclay, exibirá cartazes da autoria de Ernesto de Sousa (Abril). Do outro lado da Avenida Brasília, nas salas do Museu da Electricidade, esperam-se exposições de José Manuel Ballester, Carlos Lobo, Henrique Ruivo, Luís Silveirinha, Valter Vinagre, José Pedro Cortes ou Julião Sarmento. 

Já noutros lugares, assomam contextos e gerações diferentes. O Teatro da Politécnica, com a energia dos Artistas Unidos, reencontra produção inédita de Joaquim Bravo (Fevereiro) e gravuras de Álvaro Lapa (Junho) e a Fundação Carmona e Costa tem programadas, entre Março e Julho, exposições de Graça Coutinho, João Queiroz e Cristina Ataíde.

Ainda em Lisboa ressalve-se a actividade da EGEAC e da Câmara Municipal de Lisboa: o Pavilhão Branco será palco de obras de Jorge Queiroz e Nicolas Robbio e a Cordoaria Nacional acolhe o blockbuster do ano, Génesis de Sebastião Salgado, realizada ao longo de uma década em viagens por vários continentes e países.

Noutra escala, mas não menos importante, está o trabalho das galerias que marcará a primeira metade de 2015 com uma série de exposições. Miguel Branco (Galeria Pedro Cera), Rosângela Rennó (Galeria Cristina Guerra), Mauro Cerqueira e Dan Rees (Múria Centeno, respectivamente no Porto e em Lisboa), Jaime de La Jara (Galeria Filomena Soares), Ana Santos (Quadrado Azul, Lisboa) e André Romão & Anna Franceschini e Alexander Gutke (Galeria Vera Cortês), Pedro Henrique e Alexandre Estrela (Galeria Pedro Alfacinha).

Não há razões, com efeito, para o pessimismo e a depressão que o acompanha. Apesar das dificuldades, artistas, curadores, direcções de museus e galeristas desenharam para 2015 um mapa em que o espectador se perde, construindo-se como cidadão.

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