Duas sauditas detidas por guiar transferidas para tribunal especial de terrorismo

As duas activistas estão detidas desde 1 de Dezembro por terem passado a fronteira ao volante dos seus carros.

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A Arábia Saudita é o único país do mundo onde as mulheres não podem conduzir Fayez Nureldine/AFP

A 1 de Dezembro, a activista Loujain Hathloul passou 15 horas a conduzir junto à fronteira que separa os Emirados Árabes Unidos da Arábia Saudita. Depois, 24 horas num posto fronteiriço. A seguir, foi detida. Maysaa Alamoudi, uma jornalista saudita que vive nos Emirados, passou a fronteira para ir seu auxílio e foi igualmente detida. Esta quinta-feira, as duas mulheres foram ouvidas num tribunal de Al-Ahsa, na Província Oriental, e transferidas para um tribunal criado para julgar crimes de terrorismo.

Não existe nenhuma lei que impeça as sauditas de conduzir no reino dos santuários do islão, mas não lhes é possível conseguir uma carta de condução no país e todos sabem que mulher apanhada ao volante é detida. Normalmente, as detidas são libertadas após poucos dias. A família de Hathloul já temia que as autoridades planeassem fazer do seu caso um exemplo.

“Eles vão transferir o caso para o tribunal do terrorismo”, disse à AFP um activista que acompanha o processo. Outro activista confirmou a transferência à mesma agência. Ambos acreditam que o processo se baseia mais nas actividades das duas mulheres nas redes sociais do que no facto de terem sido apanhadas a conduzir.

Hathloul, de 25 anos, licenciada em Literatura Francesa, tem 229 mil seguidores no Twitter. Já participara numa campanha contra a proibição em 2013, publicando um vídeo no YouTube onde conduzia desde casa até ao aeroporto de Riad. Entretanto, divulgara outro vídeo onde surgia de rosto e cabelos descobertos, num desafio aos religiosos ultraconservadores do reino. Alamoudi já promoveu um programa no YouTube onde se debatia a proibição.

A meio de Dezembro, seis sauditas conduziram o seu carro no Leste da Arábia Saudita, em apoio às duas activistas. Todas foram detidas mas entretanto libertadas. Segundo disse ao jornal The Guardian nessa altura um amigo de ambas, a jornalista não tencionava atravessar a fronteira. “Ele só foi ajudar e apoiar Loujain, levar-lhe comida, quando soube que estava ali sem poder sair com o passaporte confiscado”, disse, pedindo o anonimato por causa das ameaças que as famílias das duas têm recebido.

“Pensamos que já foram levadas para diferentes prisões e interrogadas várias vezes”, afirmou o mesmo amigo. “Mais do que isso não sabemos. As autoridades não nos dizem nada, os telefones delas estão desligados e estamos muito preocupados com as condições em que estarão detidas. Não fazemos ideia do que podem estar a planear e estamos muito preocupados. Hathloul é uma jovem muito corajosa, mas neste caso estará assustada, em choque.”

Enquanto esteve parada na fronteira, dentro do seu carro, Hathloul foi tirando fotografias que publicava na Internet, incluindo da sua carta de condução, “válida em todos os países do CCG”, Conselho de Cooperação do Golfo, a organização de países regional que a Arábia Saudita integra. A última vez que publicou no Twitter escreveu: “Estou na fronteira há 24 horas. Não me querem dar o meu passaporte nem me deixam passar”.

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