Cubanos terão uma “luta grande e difícil” até ao fim do embargo, avisa Raúl Castro

O Presidente saudou a reaproximação entre os EUA e Cuba e apelou à mobilização internacional para acabar com o bloqueio económico à ilha.

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Raúl Castro falou na Assembleia Nacional, em Havana Reuters

O Presidente cubano, Raúl Castro, afirmou neste sábado que “o povo cubano agradece a justa decisão” do Presidente norte-americano, Barack Obama, de reatar as relações diplomáticas entre os dois países. No entanto, “falta resolver o essencial”, recordou Castro, referindo-se ao embargo económico imposto pelos EUA à ilha.

Três dias depois do anúncio do restabelecimento das relações bilaterais entre os Estados Unidos e Cuba, Raúl Castro discursou perante a Assembleia Nacional, em Havana, para fazer um balanço do ano prestes a terminar. Entre os feitos da economia interna – que o governo prevê crescer 4% no próximo ano – Castro quis aclarar algumas questões relativamente à reaproximação entre Cuba e os EUA.

O líder cubano reconheceu a “justa decisão” de Obama que permite retirar “um obstáculo às relações” entre os dois países. Fazendo eco do que o Presidente norte-americano já havia dito, Castro afirmou que “se pode abrir uma nova etapa entre os EUA e Cuba”.

Porém, o irmão de Fidel lembrou que “falta resolver o essencial, que é o fim do bloqueio económico, comercial e financeiro contra Cuba” e aproveitou para lançar um apelo muito directo. “Esta será uma luta grande e difícil, que irá requerer a mobilização internacional e da sociedade norte-americana para que continue a reclamar o levantamento do bloqueio.”

Nessa luta, Raúl Castro não se coibiu de indicar os primeiros obstáculos que já emergem, referindo as “violentas críticas” recebidas por Obama “por parte de forças como legisladores de origem cubana e líderes de grupúsculos contra-revolucionários”. Castro refere-se às reacções dos senadores republicanos Ted Cruz e Marco Rubio, ambos descendentes de cubanos que fugiram ao regime castrista.

Numa entrevista à Fox News, logo após o anúncio de Obama, Rubio, senador pela Florida, acusou o Presidente de estar a “acarinhar ditadores e tiranos”. Já Ted Cruz defendeu que a reaproximação apenas irá “agravar” a falta de liberdade na ilha. No seu discurso, Castro garantiu que os críticos “farão todos os possíveis para sabotar o processo”. “Pela nossa parte, primará uma conduta prudente, moderada e reflexiva, mas firme”, afirmou.

Poucos dias após o anúncio da reaproximação, Obama disse que “Cuba irá mudar”, mas reconheceu que “essa mudança não será feita da noite para o dia”. Este sábado, Castro também falou em mudanças, mas para garantir que vão ocorrer “sem renunciar a um só” dos princípios vigentes. “Não se deve pedir que Cuba renuncie às ideias pelas quais lutou mais de meio século”, declarou o Presidente cubano. Castro pediu “respeito mútuo” para que os dois países possam avançar para uma reaproximação efectiva e manifestou disponibilidade em dialogar com os EUA “sobre qualquer assunto”.

A remoção de Cuba da lista de países que apoiam o terrorismo internacional elencada pelo Departamento de Estado norte-americano também foi saudada por Raúl Castro, que considerava a inclusão “injustificável”. “Cuba jamais organizou, financiou ou executou qualquer acto terrorista contra pessoas ou território dos EUA, nem o permitirá”, garantiu.

A nível diplomático, Raúl Castro fez questão de assegurar os seus aliados de que Havana pretende prosseguir uma política externa assente “numa base de fidelidade inamovível” aos princípios que a têm guiado. A mensagem destinou-se directamente à Venezuela – país que se tornou no principal parceiro económico e diplomático de Cuba – com quem Castro garantiu a política de oposição às “tentativas de interferir” com o governo de Nicolás Maduro.

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