Coreia do Norte exige "investigação conjunta” aos hackers ou haverá "sérias consequências"

Diplomacia nega responsabilidades depois de os EUA terem atribuído a Pyongyang a autoria do gigantesco ataque informático à Sony Pictures.

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A sátira The Interview filma a morte de Kim Jong-un DR

Um dia depois de Barack Obama e o FBI terem apontado o governo norte-coreano como responsável directo do ataque informático que há um mês fustiga a Sony Pictures, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte negou qualquer responsabilidade no caso. “Calúnia”, disse a diplomacia de Pyongyang, que pediu, com uma ameaça, que os EUA aceitem uma “investigação conjunta” ao caso.

“Os EUA devem ter presente que vão enfrentar sérias consequências no caso de rejeitarem a nossa proposta de uma investigação conjunta e se insistirem no que chamaram de contramedidas" quando culparam a Coreia do Norte, disse um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte, citado pela agência Associated Press.

O mesmo representante, que não foi identificado pelo seu nome, disse este sábado à agência estatal norte-coreana KCNA que as acusações feitas na véspera pela administração Obama são uma “calúnia” e que provará a sua inocência – “Temos uma forma de provar que nada temos a ver com o caso e sem recorrer a tortura, como faz a CIA”, ironizou o porta-voz.

Este é mais um capítulo em quase um mês de instabilidade no sector cinematográfico norte-americano, uma das mais valiosas exportações dos EUA em termos de influência cultural. Desde 24 de Novembro que um grupo de hackers identificado como Guardians of Peace (GOP), uma expressão que o actor e realizador George Clooney lembrou sexta-feira ter sido usada pelo ex-Presidente Richard Nixon para descrever a China, tem a Sony Pictures sob ameaça.

No que será um ataque motivado por uma sátira de dois dos maiores nomes da comédia stoner de Hollywood – género que, contudo, é um nicho cultural e de mercado -, o filme The Interview sobre dois jornalistas americanos contratados pela CIA para matar Kim Jong-il, o líder norte-coreano, foi cancelado. Houve ameaças à segurança dos espectadores do filme na sua estreia, agendada para o dia de Natal, que invocavam o 11 de Setembro, as salas recusaram mostrar o filme e começou a fermentar um incidente internacional.

Que resultou sexta-feira na acusação taxativa do Presidente dos EUA ao regime de Pyongyang por estar por trás dos hackers que deixaram a Sony Pictures, uma das majors de Hollywood, em turbulência e com o FBI a dizer que a sua investigação de 20 dias chegou também à Coreia do Norte e a ferramentas e software usados noutros ciberataques identificados com aquele país. O caso do hack da Sony passou de uma história sobre fuga de emails e filmes por estrear para a Internet a uma crise diplomática entre dois países de relações já por si escassas e tensas.

Obama apontou também o dedo à Sony, apelidando de “erro” a decisão do estúdio de suspender quaisquer planos de lançamento para o filme que, em Portugal, teria como título Uma Entrevista de Loucos e com estreia prevista para 29 de Janeiro de 2015. "Ter-lhes-ia dito para não entrarem num padrão no qual são intimidados [num ataque deste tipo]", disse o Presidente americano na sexta-feira. A Sony, por seu turno, defendeu-se dizendo, através do seu director Michael Lynton, que a empresa não capitulou. “Não cedemos.” E frisou em entrevista à CNN que a suspensão do filme dizia respeito apenas à sua estreia “no dia de Natal nas salas, depois de os exibidores terem declinado passá-lo”.

A Sony diz que começou “imediatamente à procura de vias alternativas para difundir o filme em plataformas diferentes”, diz um comunicado da empresa: “Esperamos que todos os que desejam ver o filme tenham oportunidade de o fazer".

Desde a suspensão do filme, os seus autores não comentaram publicamente o caso. O CEO da Sony, Kazuo Hirai, também não falou publicamente sobre o ataque a um dos braços da sua multinacional.

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