O espião cubano que mesmo depois de preso continuou a ser útil aos EUA

Imprensa norte-americana identifica informador da CIA envolvido na troca de prisioneiros como sendo Rolando Sarraff Trujillo, de certa forma um “espião perfeito”.

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Aproximação entre EUA e Cuba está a motivar acesas discussões entre cubanos exilados Joe Raedle/Getty Images/AFP

O homem que Barack Obama nomeou mas não identificou, um dos mais importantes agentes que os serviços secretos norte-americanos alguma vez tiveram em Havana, será Rolando Sarraff Trujillo. Cubano, hoje com 51 anos, foi, de certa forma, um “espião perfeito”, escreveu o New York Times.

Nem as autoridades norte-americanas nem as cubanas o confirmam, mas a imprensa dos Estados Unidos, designadamente o jornal nova-iorquino e a revista Newsweek, noticiaram – a partir de informações de actuais e de antigos responsáveis governamentais – que é ele o misterioso espião não identificado, envolvido na troca de prisioneiros que acompanhou o anúncio do restabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países, na quarta-feira.

A utilidade para a CIA de Sarraff Trujillo, preso em 1995 e condenado a 25 anos de prisão, foi tão grande que, década e meia depois de estar na prisão, em Cuba, continuava a ser-lhe útil.

O homem cuja identidade não foi revelada quando se anunciou a troca de prisioneiros foi “um dos mais importantes agentes de informações que os Estados Unidos alguma vez tiveram em Cuba”, disse Obama, ao anunciar a quebra do isolamento do regime de Havana, uma decisão que está a motivar acesas discussões entre cubanos exilados. “Forneceu à América informação que nos permitiu prender a rede de agentes cubanos que incluía os homens transferidos hoje para Cuba, bem como outros espiões”, reconheceu então o Presidente norte-americano.

“Conheço todos os cubanos presos e é o único que se ajusta à descrição”, disse, à Newsweek, Christopher Simmons, antigo especialista em Cuba da Defense Intelligence Agency. “Estou 99,9% seguro de que Roly é essa pessoa.” Rolando Sarraff Trujillo, disse, é um criptógrafo especializado em códigos usados por espiões cubanos nos Estados Unidos nas suas comunicações com Havana.

Membros da família citados pelo New York Times contaram que um dia, em Novembro de 1995, foi trabalhar e não voltou a casa. Mas a sua importância para os serviços secretos de Washington prolongou-se no tempo. As “chaves” que lhes terá transmitido permitiram aos norte-americanos continuarem a descobrir importantes agentes ao serviço do regime de Havana, muito tempo passado sobre a sua prisão.

Foi o caso de Ana Belén Montes, que trabalhava como analista de informações no Pentágono; de Walter Kendall Myers, antigo responsável do Departamento de Estado; da mulher deste, Gwendolyn Myers; e de membros do chamado grupo “Cinco Cubanos”, presos em Miami em 1998 e condenados por espionagem nos Estados Unidos. Os três últimos deste grupo foram libertados na quarta-feira.

Para além do agente ainda não identificado oficialmente e dos três cubanos, a troca de prisioneiros desta semana envolveu um trabalhador humanitário norte-americano, Alan Gross.

Rolando Sarraff Trujillo estudou Jornalismo na Universidade de Havana e tinha o posto de primeiro-tenente dos serviços de informações cubanos, segundo informações divulgadas pela irmã Vilma, uma das duas que vivem em Espanha, que há anos reclamava contra a prisão do irmão e defende a sua inocência. O irmão é por ela descrito como alguém com interesse pela pintura e pela poesia e que esteve 18 dos 19 anos que passou na prisão em situação de isolamento.

Depois de, na terça-feira, não terem recebido uma habitual chamada telefónica do filho, os pais de Sarraff Trujillo procuraram, no dia seguinte, saber o que se passava com ele, tendo-se dirigido à prisão de alta segurança de Villa Marista, nos arredores de Havana. Os funcionários disseram-lhes que tinha sido levado ao amanhecer, mas que não tinham razões para se preocuparem, que tinha sido “por boas razões”, disse, citado pelo diário espanhol El País, o pai, Rolando como o filho, tenente-coronel reformado e antigo jornalista da agência Prensa Latina.

Ao New York Times, Rolando pai disse que voltou várias vezes à prisão e que continua sem saber do filho e que, por isso, devido à falta de informações, apesar dos sinais de que terá sido libertado, “este não é um momento de felicidade mas de pânico”.

 

 

 

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