Isabel dos Santos tem de avançar com mais 430 milhões para manter OPA

CMVM só dispensa empresária do lançamento de uma OPA sobre 100% da PT SGPS se a contrapartida subir.

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Isabel dos Santos tem 19% do BPI Nuno Ferreira Santos

Vai Isabel dos Santos deixar cair a Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre a PT SGPS? Se a empresária mantiver o que referiu no anúncio preliminar, que só avançava se a CMVM a dispensasse de lançar uma oferta sobre 100% do capital, sim. A não ser que esteja disposta a recuar depois de ter dito que não subia o preço, pondo pelo menos mais 430 milhões de euros na mesa.

É que a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) não vê justificação possível para que a Terra Peregrin, sociedade criada para a OPA, seja dispensada da obrigação de lançar uma oferta sobre a totalidade do capital da PT SGPS (a empresária quer apenas o suficiente para garantir o controlo da holding, ou seja, pelo menos 50,01%) se não aumentar a contrapartida para um dos critérios das OPA obrigatórias. Mais concretamente, para o preço médio ponderado das acções nos últimos seis meses. Um valor que, segundo a administração da PT SGPS, é de 1,83 euros, mais 48 cêntimos que os 1,35 euros por acção propostos pela Terra Peregrin, e que avalia a holding em 1640 milhões de euros.

“Após apreciação pela CMVM da fundamentação apresentada pelo Oferente no âmbito do respectivo pedido de registo da oferta, conclui-se que a contrapartida a oferecer para que a oferta voluntária possa ser qualificada como derrogatória deverá conformar-se com o valor resultante da aplicação do critério do preço médio ponderado”, sublinhou ontem a CMVM em comunicado.

Mário Leite da Silva, representante de Isabel dos Santos, tem defendido o preço como “justo e equitativo” e garantiu que não vai haver subidas “ponto final”. Isabel dos Santos já admitiu que deixará cair a OPA se a PT Portugal for vendida (o negócio vai ser votado na assembleia geral da PT a 12 de Janeiro). Mas agora, perante a recusa da CMVM em aceitar o registo da operação nas condições que exigiu, terá de clarificar a estratégia através da qual pretende participar no futuro da operadora. “Ficámos surpreendidos com a decisão da CMVM. Vamos estudar o assunto. Tomaremos uma decisão amanhã”, disse ao PÚBLICO fonte da sociedade, depois de conhecida a posição do regulador.

O entendimento de Isabel dos Santos é que a referência para o valor da OPA não pode ser a cotação da PT SGPS nos últimos seis meses, porque nesse período sucederam-se eventos que puseram em causa o valor da sociedade, como os investimentos da PT na Rioforte, holding do Grupo Espírito Santo que se encontra em processo de insolvência.

Mas a entidade liderada por Carlos Tavares tem uma leitura diferente e não “vislumbra qualquer fundamento para afastar a aplicação do preço médio ponderado, tendo especialmente em consideração que o título em questão é dotado de elevada liquidez e que a cotação não foi afectada, enquanto critério de avaliação, por acontecimentos que tenham distorcido os mecanismos em que assenta a sua formação”.

No comentário que fez ao projecto de prospecto, a administração da PT SGPS tinha sublinhado que o preço não reflectia “o valor intrínseco” da holding e considerado também que dificilmente a CMVM poderia libertar a empresária de lançar uma OPA subsequente sem uma revisão da contrapartida.

Entre críticas quanto às verdadeiras motivações da OPA e acusações de recurso a um “expediente” para condicionar o poder de actuação da administração da PT SGPS (colocando-a em “gestão corrente”), os accionistas da holding também consideraram insuficiente a informação de Isabel dos Santos quanto ao financiamento da operação.

 

 

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