Em 56 anos de vida, Cristiano Silva nunca viu uma coisa assim

O vulcão desassossega as populações desde 23 de Novembro. Mais de 1300 pessoas ficaram sem casa.

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O geógrafo Orlando Ribeiro (à esquerda) na erupção vulcânica da ilha do Fogo em 1951 DR

Nos 56 anos que tem, passados quase na maioria do tempo, na Ilha do Fogo, Cristiano Silva nunca viu uma coisa assim. Não viu nem ouviu dos avós que lhe contavam como o vulcão da ilha surpreendeu os habitantes em 1951.

Nesse ano, a lava destruiu mais do que em 1995, apesar de Chã das Caldeiras ser então uma zona com muito poucas pessoas e ainda menos casas. Nem em 1951 nem em 1995, a lava percorreu tanto espaço e de forma tão persistente como nas últimas quase três semanas. Já lá vão 19 dias desde que se ouviu o rufar dos primeiros sinais da intensa erupção.

“Nunca vivemos aqui uma situação destas, com um vulcão desta dimensão. Nem presenciei nem ouvi dos meus avós nem de ninguém da ilha”, diz Cristiano Silva, contou nesta quinta-feira pelo telefone a partir de Santa Catarina, município a dez quilómetros de Chã das Caldeiras onde se encontra o vulcão.

Não ousa prever uma data para o fim, depois das populações terem sido de novo surpreendidas no dia 30 de Novembro quando tudo parecia calmo dois dias antes. Nesse dia, a erupção ressurgiu com toda a força e foi então que provocou o maior rasto de destruição, já depois das populações afastadas. “Nos primeiros dias, muitas pessoas resistiram, não queriam sair, na fé que seria possível regressar à normalidade.”

Não foi. E uns dias depois todos estavam longe. Ficaram sem nada: as casas e o espaço “onde muitos jovens conseguiram cimentar as suas vidas, com a agricultura”. “As pessoas estão tristes e revoltadas porque esta é uma parte da ilha onde têm a sua economia, sem dependerem de ninguém”, conta Cristiano Silva.

A sua associação comunitária Avançar para a Frente é uma das muitas organizações da sociedade civil envolvidas num amplo movimento de solidariedade, no qual também participam empresas e empresários, com a distribuição de cabazes de alimentos, roupas e bens de primeira necessidade às mais de 1300 pessoas desalojadas.

Cristiano Silva acredita, recorrendo às informações de uma equipa da Universidade de Cabo Verde, que o vulcão fique activo, no máximo, 56 dias, desde a primeira hora da primeira erupção: quase às 10h de 23 de Novembro. Era domingo. Na véspera à noite, as povoações mais próximas sentiram os primeiros sinais, um som fundo e uma vibração constante. Hoje estão acolhidas em centros ou em casa de familiares, à espera do fim que quase ninguém consegue prever.

 

 

 
 

   

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