Podemos quer mais banca pública e impostos retirados do modelo escandinavo

Partido liderado por Pablo Iglesias diz que ainda é possível evitar uma reestruturação de dívida e quer um papel maior do Estado na banca.

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Pablo Iglesias diz que o seu modelo é social-democrata Enric Vives-Rubio

Sem falar da saída do euro e com um discurso muito prudente em relação à reestruturação da dívida, o Podemos apresentou esta quarta-feira um projecto de programa económico que aposta num maior papel do Estado no sector financeiro, num aumento da massa salarial na economia e na cobrança de mais impostos às grandes empresas e fortunas. O modelo mais vezes citado é o da social-democracia dos países escandinavos.

O documento de 60 páginas agora divulgado foi elaborado a pedido da liderança do Podemos pelos economistas Juan Torres e Vincenç Navarro e irá agora passar por um processo de discussão e debate dentro do partido até se transformar efectivamente no programa económico que o movimento irá apresentar nas próximas eleições legislativas.

Era muita a expectativa em relação às propostas económicas do Podemos. Desde que conseguiu eleger cinco deputados para o Parlamento Europeu e que começou a aparecer em primeiro lugar nas sondagens, o movimento liderado por Pablo Iglesias tem estado sob maior pressão para explicar o que é que exactamente quer dizer com “uma política de choque contra a crise” e como é que pretende pagar o aumento das despesas sociais que tem vindo a defender.

Ao contrário do que muitos esperavam, o projecto não avança para um cenário de saída de Espanha do euro e defende que se deve ainda tentar evitar uma reestruturação de dívida. A ideia é de que é possível, se se conseguir colocar outra vez a economia a crescer e a cobrança de impostos aumentar, voltar a colocar a dívida pública num nível sustentável. Isso e uma mutualização de dívida negociada com os parceiros europeus.

Para a economia crescer, o Podemos diz que é preciso dinamizar a procura. E para isso propõe “um aumento dos salários e do número de assalariados”. A ideia é a de que a Espanha é uma das sociedades com maiores desigualdades na Europa e que uma mudança a esse nível passa por aumentar os rendimentos dos escalões mais baixos de rendimento. Uma das medidas é a garantia pelo Estado de um determinado rendimento “para as pessoas que não o consigam atingir por razões que não são da sua responsabilidade”.

Outro ponto fulcral no plano para fazer crescer a economia é facilitar a concessão de crédito. O Podemos diz que “o acesso ao crédito deve ser um direito que o Estado deve garantir”. Perante o que dizem ser um “sector bancário privado ineficiente”, defendem um reforço da banca pública e da banca cooperativa.

O Podemos defende também o aumento do salário mínimo, “embora ponderando o impacto que pode ter no emprego” e uma subida do valor das pensões. Outras propostas são a semana de trabalho de 35 horas e a idade de reforma de 65 anos, “com flexibilidade para quem queira trabalhar menos ou mais”.

As propostas a nível social, que incluem também um reforço do emprego público em áreas como a saúde e a educação, implicam custos. A solução do Podemos para os suportar está em que “não haja um euro mal gasto” e num aumento de impostos sobre as grandes empresas e fortunas que o partido diz que pode gerar mais 44 mil milhões de euros em receitas fiscais.

E é aqui que surge uma das muitas comparações feitas com os países escandinavos, declaradamente o modelo a que o Podemos se quer associar. Vincenç Navarro assinalou que um trabalhador com um salário médio em Espanha paga 78% dos impostos suportados por um sueco. Uma diferença relativamente pequena quando se verifica que um super-rico espanhol paga 20% dos impostos pagos por um super-rico sueco.

Pablo Iglesias assumiu abertamente que o seu modelo é o da social-democracia escandinava e não o da Venezuela ou de outros países da América Latina, “que não se podem importar para a Europa”.

E perante as críticas de populismo, respondeu com um contra-ataque: “As nossas propostas são realistas, tudo o contrário do que fez o PSOE em 2008 quando prometeu pleno emprego ou do que fez o PP em 2011 quando prometeu mais 3,5 milhões de postos de trabalho”. 
 

   

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