Passos quer o país com os pés no chão e avisa que não é a emigração que explica a descida do desemprego

Primeiro-ministro esteve em Vagos nesta segunda-feira de manhã. Visitou três empresas, falou de recuperação económica e pediu à Europa mecanismos “mais eficazes” para prevenir crises. Na rua, uns chamaram-lhe "mentiroso", outros apertaram-lhe a mão.

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Pedro Passos Coelho começou a semana com uma visita a três empresas que remam contra a maré, que investem, que exportam, que têm perspectivas de crescimento em novos mercados, que respiram saúde e que estão instaladas no Parque Empresarial de Souza, em Vagos. Não houve declarações a jornalistas, à margem das visitas, e nem vagamente o nome do ex-primeiro-ministro foi mencionado nos discursos oficiais.

Antes do périplo pelas modernas unidades industriais, e praticamente à mesma hora que José Sócrates chegava ao Campus de Justiça para continuar a ser ouvido, o primeiro-ministro reafirmava o momento de viragem que o país vive. Em tom de campanha eleitoral.

Lembrou que o IRC descerá de 23 para 21% no próximo ano – e que até 2017 ainda poderá atingir os 17% -, anunciou que as empresas poderão candidatar-se a fundos europeus até ao final deste ano, e adiantou que em 2015 o Governo transferirá mais recursos para os municípios. E, em voz alta, deixou um desejo.“Que os momentos de recuperação sejam de chão sólido para pisar e não de ilusão para nos enganar”, disse durante um discurso de cerca de meia hora na Câmara de Vagos.

Passos Coelho admite que a taxa de emprego não é a desejável, mas recusa que a emigração seja anexada aos motivos que explicam a diminuição do desemprego. “Hoje há mais confiança. Não temos o crescimento do emprego que gostaríamos, mas a ideia de que o desemprego só baixa porque as pessoas emigram é falsa”, garantiu, recordando que Portugal é um país de emigrantes e que os números de quem parte não serão muito diferentes do que os registados em 2007 e 2008.

O primeiro-ministro fala em confiança e em sinais que mostram que o tecido empresarial está a recuperar, a investir, a criar postos de trabalho. “Estamos a criar mais emprego do que há dois anos e as novas empresas são mais do que as que não aguentaram a crise”. “Precisamos de ver o investimento regressar de forma sustentada. Precisamos de mais inovação, mais tecnologia, mais oportunidades, que possam ajudar o país a crescer e a gerar emprego de uma forma sustentada e de uma forma firme”, acrescentou.

O programa Portugal 2020 de investimento com fundos comunitários está à porta e as empresas podem apresentar candidaturas até final do ano. Mas o primeiro-ministro deixa um aviso. A lógica mudou e os investimentos a fundo perdido não se repetirão. “Não vamos ter mais do mesmo”, avisou, sustentando que o objectivo é “escapar aos erros do passado” e apresentar “projectos que tenham cabeça, corpo e membro”.

Mas nem tudo são boas notícias. Passos Coelho reconhece que não vivemos no mundo ideal, que há um grande volume de dívida que é preciso reduzir e que o "Estado tem de se comportar com parcimónia". Na sua opinião, o guião que os próximos governos têm de seguir está traçado: reduzir o stock da dívida, tornando o investimento menos arriscado, libertar dinheiro para a economia e aumentar as perspectivas de futuro.

É este o caminho, realçou, “para qualquer governo”. “Não nos passa pela cabeça não assumir as nossas responsabilidades, senão não nos emprestam coisa nenhuma”, afirmou.

O primeiro-ministro reconhece que ninguém ficou de fora do esforço que a austeridade impôs e volta a falar em confiança, num regresso aos mercados e que agora é possível subir degraus. “Acredito que o esforço que estamos a fazer nos permite hoje sonhar um pouco mais alto do que fizemos até aqui”.

Protestos e cumprimentos
À saída da Câmara de Vagos, esperava-o uma manifestação com cerca de 30 elementos da União dos Sindicatos de Aveiro. Chamaram-lhe “mentiroso”, pediram a sua “demissão”. Do outro lado da rua, havia gente que o queria cumprimentar. O primeiro-ministro chegou mesmo a atravessar a estrada para alguns cumprimentos e para ouvir da boca de um senhor do povo um “continue que está a fazer um bom trabalho”.

Momentos antes, ainda dentro da câmara municipal, tinha escutado elogios do presidente da autarquia Silvério Regalado que, nas honras da casa, o apresentou como “um exemplo de resiliência único” e “um líder capaz e competente”. O autarca de Vagos aproveitou a ocasião para mostrar o seu orgulho pelas três empresas incluídas no roteiro terem 150 milhões de euros de investimento feito desde 2009 e criado 800 postos de trabalho.

Passos Coelho seguiu caminho para as empresas. Na Plafesa Portugal, grupo familiar com capital espanhol, multinacional do sector siderúrgico que se dedica à produção de aço de carbono para as indústrias mecânicas, automóvel e de construção, Passos não deixou escapar a oportunidade para sublinhar que o esforço pela recuperação económica feita pelos dois países, Portugal e Espanha, “precisa de ser acompanhado por outros países europeus”. E deixou o recado para que a Europa crie “mecanismos mais eficazes que possam prevenir crises futuras”.

O primeiro-ministro já tinha visitado a Grupel, que produz geradores eléctricos e que no ano passado entrou no mercado angolano, e depois seguiu para a Ria Blades, empresa que produz pás eólicas em instalações erguidas com dinheiro alemão, que emprega mais de 500 funcionários e que espera contratar mais 500 até Março do próximo ano. Antes de ir embora, pelas 12h30, Passos Coelho ainda posou para algumas fotografias, a pedido dos anfitriões, e partiu sem qualquer momento para perguntas dos jornalistas. 

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