Comunidade chinesa com diferentes respostas à crise

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Muitos negócios fecharam entre 2009 e 2012 Paulo Pimenta

Em 1999, havia 3062 imigrantes chineses registados em Portugal mas, em 2012, esse número era já de 17.447. E, com a saída de muitos cidadãos estrangeiros por causa da crise, o peso da comunidade chinesa no total da população imigrante era, em 2012, de 4,2%. Os dados constam do trabalho recentemente divulgado por Miguel Santos Neves e Annette Bongardt, outra investigadora, intitulado The chineses business community at a crossroads between crisis response and China’s assertive global strategy - the case of Portugal, onde é traçado um retrato dinâmico da realidade chinesa em Portugal, num contexto europeu.

O estudo analisa os grandes investimentos das empresas estatais e privadas no mercado nacional e, também, o fenómeno dos vistos dourados, mas vai além disso: olha também para os pequenos negócios, para a comunidade instalada e a forma como reagiram à crise europeia e portuguesa. Uma conclusão deste trabalho é que a esmagadora maioria das empresas chinesas são micro-empresas e que estas, tal como as outras da mesma dimensão, “foram severamente afectadas pelo declínio da procura interna” em Portugal, no quadro da crise.

Não existem números oficiais, mas adianta-se, com dados das associações existentes, que entre 2009 e 2012 houve uma queda da ordem dos 20% a 25% no número de empresas (entre comércio, restauração e armazenamento), e que o número total desceu para cerca de 3800 empresas. As respostas à crise dos empreendedores chineses foram variadas.

Por um lado, houve quem fechasse o seu negócio (antes ou depois de este bater no fundo) e passou de patrão a empregado, havendo também casos de quem voltou para a China (aproveitando a sua rede de contactos para vender produtos portugueses neste país) ou migrou para outro país (como Angola ou Brasil, por exemplo). Por outro lado, outros tiveram uma reacção mais pro-activa, apostando na expansão ou diversificação dos negócios.

Através de um inquérito junto da população chinesa em Portugal, os dois autores verificaram que vários empresários tinham uma vantagem: não precisavam da banca para se financiar, recorrendo às relações familiares. Aqui, cabem várias estratégias, como a abertura de lojas de maior dimensão ou mais lojas idênticas mas em zonas diferentes (efeito de escala) e a diversificação (aposta em novas áreas).

Há o exemplo de um empresário que, além de apostar num restaurante e numa loja de venda a retalho de todo o tipo de produtos, investiu também numa agência de viagens em 2012. Isto num quadro de maior dinâmica de turismo por parte da China. 

Um outro caso referido no estudo, que fala também do início de um movimento de saída do circuito fechado em que os empreendedores chineses costumam operar, é o de um homem de negócios que apostou na venda de fruta madura. Localizado mesmo em frente a uma loja de uma grande cadeia de retalho alimentar, vende os produtos a preços acessíveis, comprados baratos por estarem perto do fim da validade, e de produtores portugueses, locais. Assim, a sua rede  de contactos alarga-se a agricultores  e armazenistas nacionais com os clientes a ter a percepção de estarem a comprar localmente.

Existe ainda uma outra tendência verificada pelos dois autores, e que passa pela inversão de uma tendência geográfica: se antes os pequenos investidores chineses estavam a sair dos grandes centros urbanos para cidades de média dimensão, a crise provocou um fluxo oposto. A explicação passa pelo facto de terem verificado o declínio das oportunidades de mercado em locais como Coimbra, Leiria ou Portalegre, devido ao menor poder de compra e menor número de consumidores nestes locais.  

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