Portas atira-se à “assombração” socrática no PS e ignora polémicas da coligação

Vice-primeiro-ministro encerrou debate do Orçamento do Estado para 2015.

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Miguel Manso (arquivo)

Em 25 minutos de intervenção no Parlamento, o vice-primeiro-ministro Paulo Portas, gastou boa parte do seu tempo a apontar o dedo ao PS de António Costa por entrar em contradição, não apresentar propostas e por ainda não ter resolvido o seu passado com José Sócrates. Foi o foco de um discurso que deixou de fora a sobretaxa de IRS ou o compromisso para manter cortes em 2016.

Apesar de reconhecer que António Costa vive em “proverbial estado de graça”, Paulo Portas vê também um PS que nega o passado quando os seus actuais dirigentes garantem que o antigo-primeiro-ministro Sócrates fez tudo para evitar a intervenção da troika. E isso, diz, até facilita a vida aos partidos que apoiam o Governo.

“O debate teria sido mais difícil para a maioria, se em vez de um PS em negação sobre o seu passado e até em aclamação sobre o seu passado, aparecesse um PS renovado com sentido crítico sobre o que aconteceu a Portugal e porquê. O PS continua a dizer que não deixou um problema e que teria resolvido de per si a questão. Deve ter sido por isso que o antigo ministro Teixeira dos Santos pediu o resgate em desespero - penso que até apesar do PM - porque os cofres estavam vazios”, afirmou, no discurso de encerramento do debate do Orçamento do Estado para 2015. Uma intervenção em que se ouviram muitos apartes na bancada socialista.

Portas referiu-se mesmo directamente ao líder da bancada do PS que hoje salientou o nome de José Sócrates como aquele que se bateu até aos limites contra a intervenção da troika, dizendo que foi uma "assombração" de hoje do respeitável deputado Ferro Rodrigues. E, perante os protestos dos socialistas, gracejou: “Falei numa assombração, escusam de ficar magoados.”

Em jeito de conselho, Portas encorajou os socialistas a pararem para pensar na estratégia eleitoral: “Ou o PS revê o seu passado - e isso é uma operação política que requer coragem - ou será sempre suspeito de querer repetir a receita e repetir a desgraça. Ou o PS dá garantias sobre prudência orçamental ou assustará temivelmente uma classe média que não quer perder mais do que já perdeu pela vossa essencial irresponsabilidade.”

Apesar dos recados, Portas deixa a porta aberta ao diálogo, mas desta vez num apelo muito mais contido do que em ocasiões anteriores e também ele focado. “Depois do que passámos - e ninguém quer repetir -, vamos então ao debate de que o PS não é evidentemente dispensável. Até porque várias questões de futuro são questões tão intergeracionais e interpartidárias que recomendam um esforço sério de compromisso e de transparência naquilo que é preciso e necessário fazer pelos portugueses e pelo país”, afirmou, sem qualquer referência mais concreta.  

As declarações de António Costa de quinta-feira ao justificar a não apresentação de propostas com o momento de transição do partido suscitaram uma resposta de Paulo Portas. “Ou bem que o pedido de eleições foi uma distracção sobre coisas sérias ou bem que, na melhor hipótese, se aceitássemos eleições, o PS não teria senão ideias vagas ou propostas transitórias”, afirmou.

Na sua intervenção (que não esgotou os 30 minutos previstos), Portas fez um balanço das medidas do OE, salientando as propostas que considerou mais benéficas para as famílias e as empresas. E garantiu que este orçamento é diferente dos que foram elaborados sob o programa de ajuda externa. Diferente mas não de oposição.

“Ouvimos ontem a oposição dizer que este orçamento é mais do mesmo. Ninguém no seu são juízo esperaria que o primeiro orçamento depois da troika fosse um orçamento anti-troika. Não estamos para aventuras. Mas bem pode a oposição evoluir no discurso: o primeiro orçamento depois da troika é diferente dos orçamentos do ciclo da troika”, afirmou.

O líder do CDS não se referiu à redução da sobretaxa do IRS, que pretendia, ou à devolução dos cortes dos salários na função pública em 2016, duas questões que têm gerado incómodo na coligação. Mas Paulo Portas já começou a namorar os eleitores. E desafiou que se compare o que queria dizer a palavra “'liberdade' do ponto de vista de Portugal em 2011 e em 2015”, e nos mesmos termos que se compare a palavra “futuro”. 

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