Morreu a historiadora Dalila Cabrita Mateus

Purga em Angola é a obra mais conhecida – e polémica – da historiadora que assinou com o marido vários trabalhos sobre Angola.

Foto
Dalila Cabrita Mateus, fotografada em 2004 Nuno Ferreira Santos

A historiadora Dalila Cabrita Mateus (1952- 2014), autora, entre outras obras, do polémico Purga em Angola , morreu esta quinta-feira em Lisboa.

Nascida em Viana do Castelo em 1952, Dalila Cabrita Mateus era Mestra em História Social Contemporânea e doutora em História Moderna e Contemporânea. Escreveu vários livros com o marido, o também historiador Álvaro Mateus, antigo chefe da escola de quadros do PCP que foi o único jornalista português a visitar as regiões libertadas da Guiné-Bissau durante a guerra colonial e que morreu no ano passado. Purga em Angola (Texto Editores, 2009), sobre os acontecimentos do 27 de Maio de 1977, foi a mais mediática dessas obras.

Autora da investigação A PIDE/DGS na guerra colonial 1961-1974 (Terramar, 2004), sobre o papel da polícia política portuguesa na guerra colonial, a historiadora assinou com o marido Angola 61. Guerra colonial: causas e consequências (Texto Editora, 2011) e Nacionalistas de Moçambique. Da luta armada à independência (Edições Asa, 2012). 

Entre as obras que assinou a solo, para além de A PIDE/DGS na guerra colonial…, estão Memórias do Colonialismo e da Guerra (Edições Asa, 2006) e A Luta pela Independências (Inquérito, 2006).

Em Purga em Angola Dalila Cabrita Mateus e o marido apontam a responsabilidade do então presidente da República Popular de Angola, Agostinho Neto, no massacre que terá vitimado um número desconhecido de opositores ao Governo aglutinados em torno da figura de Nito Alves, num movimento de contestação conhecido como Fraccionismo e duramente reprimido com a prisão, tortura e morte de “nitistas”.

Para o livro, a historiadora falou com antigos presos, gravando e transcrevendo entrevistas – hoje em depósito na Torre do Tombo – sobre as torturas sofridas. Numa entrevista que deu na altura da publicação da obra à DW, a historiadora explicou que o que mais a marcou de todo o processo de investigação foi o suspiro de um dos seus últimos entrevistados, quando acabou de falar. “Encostou-se a uma porta e da sua boca saiu um suspiro enorme. Tinha desabafado. Disse-lhe: ‘O senhor conseguiu enfim desabafar.’ Mas eu, que ando há anos a ouvir o sofrimento de todos os presos políticos, com quem desabafo? Ainda hoje sonho, tenho pesadelos com este horror.”

Várias das figuras ligadas ao MPLA, tanto em Angola como em Portugal, reagiram contra esta obra. 

O velório de Dalila Cabrita Mateus está marcado para esta sexta-feira, pelas 16h30, na Basílica da Estrela, em Lisboa. Haverá uma missa no mesmo local, pelas 9h45 de sábado e o funeral será no cemitério do Alto de S. João, pelas 11 horas.

 


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