Vieira da Silva diz que governo de Sócrates fez "tudo" para evitar resgate

PS e PSD envolveram-se em disputa sobre “cheque” em branco ou sem cobertura. Os ânimos parlamentares aqueceram.

Foto
Vieira da Silva Daniel Rocha

A intervenção do socialista Vieira da Silva no arranque da tarde orçamental desta quinta-feira, na Assembleia da República, deu o mote a uma discussão acesa com as bancadas da maioria.

PSD e CDS acusaram o PS de fazer “tábua rasa” do legado governativo de José Sócrates, enquanto os socialistas recordaram que fizeram "tudo" para evitar o pedido de resgate financeira às entidades internacionais.

O ex-ministro socialista acusou um “mau Orçamento” do Estado para 2015, com previsões macroeconómicas que “ninguém faz”, citando a Fitch, a OCDE e a Universidade Católica. De fora não ficaram também a introdução de tectos nas prestações sociais, que são “inaceitáveis”, e a ausência de um programa de crescimento económico.

“Esta é uma má proposta de Orçamento, pelo que tem de falta de credibilidade, de acréscimo da carga fiscal, de fragilização do Estado Social, de recuo nas políticas de qualificação”, afirmou, para justificar o voto contra do PS. “Em Portugal, as desigualdades estão a aumentar e a pobreza está a crescer perigosamente”, acrescentou.

Adão Silva, pelo PSD, pediu então a palavra para contra-atacar. “Por quem o dr. António Costa nos manda avisar?!”, ironizou, arrancando aplausos às bancadas da maioria. O social-democrata acusava assim o ex-governante dos últimos dois executivos, Vieira da Silva, de fazer “tábua rasa, papel em branco” do estado em que o PS deixou o país.

“Foram tábua rasa no passado e querem um cheque em branco para o futuro.(…)  É preciso que haja um novo candidato do PS a primeiro-ministro para que tudo fique na mesma”, acrescentou o social-democrata, para irritação dos socialistas.

Vieira da Silva começou por ripostar com uma única frase, que impediu que os minutos seguintes fossem audíveis, devido aos protestos do PSD e do CDS: “Nós sempre fizemos tudo para impedir a intervenção estrangeira em Portugal.” O parlamentar ainda acrescentou que “não foi o PS que disse que tinha toda a disponibilidade para governar com o FMI”. Depois, respondeu à questão do cheque: “O que se passou com a vossa maioria foi um verdadeiro cheque sem cobertura.”

Pelo CDS, Ribeiro e Castro saiu em defesa do Governo, elegendo o PS como o responsável pela “década perdida”, referida antes por Vieira da Silva. O deputado centrista recorreu então “ao princípio culinário do souflé”, lembrando a sua personagem  - “Cozinheiro e Castro” - no antigo programa televisivo Contra-Informação. Atacou a receita do PS de “um crescimento feito de claras em castelo, puro artificialismo”, ilustrando com “auto-estradas sem carros, aeroportos sem aviões e TGV’s sem comboios”.

“Nós só este ano é que nos vamos começar a libertar desse legado, este é o primeiro Orçamento pós-troika”, rematou Ribeiro e Castro.

Comentadores não incomodam
Ainda durante a manhã, na bancada do PS, o líder parlamentar quis devolver ao primeiro-ministro as críticas que fez na passada semana aos comentadores e jornalistas, acusando-os de serem “patéticos”, “orgulhosos” e preguiçosos”.

"Em vez de catalogar os seus antigos companheiros, presidentes do PSD e outros líderes de opinião, aconselho-o a ouvi-los melhor, sobretudo a ouvir bem a dra. Manuela Ferreira Leite e o dr. Bagão Félix. Tem muito a aprender, senhor primeiro-ministro", avisou Ferro Rodrigues.

Na resposta à interpelação, Passos Coelho disse não sentir-se incomodado com as referências feitas. “Ao contrário do que supõe, essa citação não me incomoda, porque à frente do Governo estou muito habituado a lutar com adversidades, venham ou não da minha área política. Encaro-as sempre com total normalidade democrática e nunca deixei de convidar os meus adversários ou concorrentes para poderem estar próximos de mim e assim poderem acompanhar o ímpeto reformista do país”, afirmou.

O líder da bancada do PS acusou ainda o primeiro-ministro de viver “num país imaginário”, e de “teimosia de um conjunto de políticas negativas e incompetentes”. Um comentário que Passos Coelho considerou ser de “pouca imaginação” e utilizou os indicadores de confiança do INE, que apontam para um nível que é o “mais elevado desde 2012”. 

Sugerir correcção
Ler 9 comentários