Getúlio perdido na cidade de Deus

O cruzamento do thriller político americano dos anos 1970 com a abordagem estético-fetichista ao cinema de rua.

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Não é nada difícil perceber onde é que a estreia na ficção do documentarista brasileiro João Jardim se foi inspirar.

De um lado, no thriller político americano dos anos 1970, com as suas movimentações de bastidores que criam uma rede de suspeitas e conspirações; do outro, na dinâmica moderna e veloz de filmes como Cidade de Deus, e da sua abordagem estético-fetichista ao cinema de rua. Mas a história dos últimos dias do envelhecido presidente brasileiro Getúlio Vargas, a caminho do seu suicídio em 1954, nunca descola de tiques formais que parecem estar lá apenas para exibir “ópramim a fazer cinema”, como se Jardim quisesse provar que tem o que é preciso para singrar no grande écrã. E é pena que, para o fazer, se apoie num argumento que parece “compactar” em 90 minutos toda uma mini-série, e deixe para segundo plano um grupo de actores uniformemente excelente dirigidos com atenção. O plano francamente infeliz em que Tony Ramos (um notável Getúlio) recorda a morte do seu filho mais velho é o melhor exemplo do modo como Jardim passa ao lado do seu filme, sem sequer perceber que há uma dignidade no seu actor que não o merecia.

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