Denúncias da Veja agitam o fim da campanha

Revista atribui a um dos envolvidos no escândalo de corrupção da Petrobras a declaração de que Dilma e Lula estavam a par de tudo.

Numa eleição imprevisível, em que nenhum dos candidatos descola nas sondagens, a chave para o desempate é, muitas vezes, uma revelação, acontecimento ou comoção de última hora, que inverte a tendência da corrida e altera o desfecho de forma inesperada e surpreendente. É o que os americanos designam como por bala de prata [silver bullet] que, mesmo sem acertar em cheio no alvo, é mortífera: dentro de algumas horas será possível perceber se a reportagem publicada na Veja, que fez capa com uma fotografia de Dilma Rousseff e Lula da Silva e o título “Eles sabiam de tudo”, sobre o já chamado "Petrolão", foi a gota de água que fez transbordar o copo contra a Presidente.

A notícia cita supostas declarações de Alberto Yousseff, um dos envolvidos no escândalo de corrupção da Petrobras, num depoimento da passada terça-feira no âmbito do acordo de delação premiada que assinou com a justiça. O Petrolão é uma trama que inclui a sobrefacturação de obras e pagamentos ilícitos a políticos, quase todos da base aliada do PT.

Quando questionado sobre quem sabia das movimentações financeiras ilícitas da petrolífera estatal, a testemunha terá respondido “o Planalto”. E quem no Planalto? “Dilma e Lula”, prosseguiu, segundo a revista, que reconhece não existirem quaisquer provas dessa acusação.

Essa versão foi prontamente desmentida pelo advogado de Yousseff, que manifestou a sua perplexidade. “Nunca ouvi nada que confirmasse isso [a alegada cumplicidade de Dilma e Lula] nem conheço esse depoimento. É preciso ter cuidado, porque está havendo muita especulação”, recomendou.

A campanha da Presidente Dilma Rousseff reagiu à publicação com uma dureza e agressividade inéditas na política brasileira. O comportamento da Veja corresponde a “terrorismo eleitoral” com o objectivo de “interferir de forma desonesta e desleal" no processo eleitoral, denunciou Dilma, que classificou o artigo como "uma barbaridade e uma infâmia”. “Darei resposta na justiça”, prometeu.

O efeito da notícia da Veja na credibilidade e votação da Presidente era difícil de prever. No dia da publicação, havia quem distribuísse cópias do artigo à entrada das estações de metro em São Paulo – uma cidade que já está maioritariamente ao lado de Aécio Neves. O candidato do PSDB deu a Dilma uma “oportunidade para se defender” das denúncias da revista no último debate televisivo na rede Globo, e insistentemente pediu que explicasse ao povo brasileiro qual era a sua posição em relação à corrupção. “Não compactuo nem com corruptos nem com corruptores”, respondeu a Presidente.

A reportagem da Veja causou grande indignação entre os apoiantes de Dilma, a ponto de um grupo de dez pessoas ter vandalizado o edifício da editora da revista em São Paulo, com pichagens e lançamento de lixo. Entretanto, o Tribunal Superior Eleitoral proibiu a revista de fazer publicidade a esta edição, seja na rádio, televisão ou outdoors.

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