Não há provas que liguem o canadiano que atacou o Parlamento ao Estado Islâmico

Pedido de passaporte alertou as autoridades, que começaram a investigar Zehaf-Bibeau. A sua mãe disse que o filho queria ir para a Síria.

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Flores deixadas no memorial em homenagem a Natham Cirillo, o militar morto no ataque de quarta-feira Chris Wattie/Reuters

As autoridades canadianas disseram não ter, neste momento, provas que liguem o homem que atacou o Parlamento de Otava aos islamistas radicais do Estado Islâmico (EI). Porém, a investigação para apurar os motivos do atentado centra-se no pedido de passaporte feito por Michael Zehaf-Bibeau.

“Penso que o pedido de passaporte aponta para o motivo. Não posso saber o que lhe ia dentro da cabeça, mas creio que foi central para as suas acções”, disse o comissário da polícia federal canadiana Bob Paulson, numa conferência de imprensa. 

Na quinta-feira à tarde as autoridades divulgaram que o atirador – que foi morto dentro do Parlamento pelo chefe protocolar de segurança – tinha pedido um passaporte e planeava viajar para a Síria. Na conferência de imprensa desta sexta-feira foram adiantados mais pormenores: Zehaf-Bibeau, que não vivia em Otava, chegou à cidade a 2 de Outubro para pedir a emissão do documento. Mas os detalhes do pedido alertaram o pessoal dos serviços, que chamaram a polícia federal, a quem pediram para verificar o cadastro de Bibeau.

Foi a mãe do atacante que, na quarta-feira, disse à polícia que a Síria era o destino do filho.

Zehaf-Bibeau estava, portanto, a ser investigado, mas o seu nome não tinha ainda sido incluído na lista de 90 de pessoas de alto risco por terem ligações a grupos islamistas radicais ou por terem viajado para a Síria ou o Iraque. Bob Paulson disse que não havia, até então, motivo para considerar Zhefan-Bibeau “um risco para a segurança”.

Em declarações à BBC, o ministro dos Negócios Estrangeiros, John Baird, explicou que tudo o que se pode dizer para já com segurança é que Michael Zehaf-Bibeau estava “com certeza radicalizado”. “Não ouvi que ele estivesse associado ao ISIL [um dos acrónimos do Estado Islâmico]”, disse o ministro, admitindo que há “grande preocupação” com o número de canadianos radicalizados e a combater na Síria e no Iraque”. São 130, segundo os dados divulgados pelos serviços secretos canadianos, tendo 80 deles regressado ao Canadá. 

Na procura do motivo, a polícia está também a investigar se existia alguma ligação entre Zehaf-Bibeau e o homem que na segunda-feira matou o militar no Quebeque. Este sim já estava na lista de pessoas "de alto risco". Até agora, não foram descobertas ligações entre os dois indivíduos. Mas no disco do computador de Zehaf-Bibeau foi encontrado o email de um homem suspeito de terrorismo.

Um ataque planeado?
Na noite de terça-feira, Michael Zehaf-Bibeau foi visto no abrigo onde vivia desde 2 de Outubro a fazer as suas orações – apesar de o pai ser líbio (a mãe é canadiana), só recentemente se converteu ao islão e começou a cumprir os preceitos da religião. Na manhã de quarta-feira, Zehaf-Bibeau – com um passado marcado pela pequena criminalidade e que lutava contra o vício da droga; “num dia rezava contra o infiel, no outro fumava crack”, diz o jornal canadiano The Globe and Mail – saiu do abrigo e conduziu um automóvel até à colina do Parlamento. Ainda na rua, começou a disparar uma arma, matando um soldado da guarda cerimonial no Memorial da Guerra (onde está o túmulo do soldado desconhecido). Deslocou-se depois ao Parlamento e continuou a disparar, até ser morto.

Foi um ataque planeado com antecedência ou uma decisão repentina? A polícia procura também resposta para esta pergunta.  
No edifício estavam ministros, deputados, jornalistas, visitantes, funcionários. O primeiro-ministro, soube-se agora, foi escondido dentro de um armário e ali ficou 15 minutos até ser retirado do edifício pelas forças de segurança. 

O Parlamento reabriu na manhã seguinte, com o primeiro-ministro, Stephen Harper, a dizer que o Canadá não se deixa intimidar pelo terrorismo e pedindo aos canadianos para não deixarem estes ataques alterarem o seu modo de vida. Mas Daniel Lang, que preside à comissão de segurança e defesa nacional do Senado canadiano, disse que o ataque mostra a “vulnerabilidade” do Parlamento e que os deputados que há muito pediam um reforço de segurança no edifício “tinham razão”, sobretudo depois de o Canadá, que pertence à coligação internacional contra o EI, ter aprovado que os seus aviões participem nos bombardeamentos no Iraque.

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