Famílias portuguesas gastam 600 euros por ano em compras na Internet

Dinheiro e cheques ainda são usados em 10% das transacções online.

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Vestuário é um dos produtos mais comprados na internet Daniel Rocha

São sobretudo hotéis e viagens aéreas, roupa e calçado, livros, CD, DVD e jogos. Em média, cada agregado familiar que compra online gastou, no ano passado, 600 euros na Internet. No total, o comércio electrónico representou 2600 milhões de euros em 2013, um valor que tem vindo a crescer desde, pelo menos, 2009 – ano em que foram gastos 1200 milhões de euros.

Os dados são de um estudo da SIBS, a empresa que gere a rede Multibanco, apresentado nesta quinta-feira durante o eShow, um evento em Lisboa dedicado ao comércio electrónico. Foi elaborado em parceria com a analista Datamonitor e baseia-se em dados daquela empresa, em números da União Europeia e em inquéritos a utilizadores.

Portugal não fica bem classificado quando comparado com o gasto médio de outros países europeus, um factor que é explicado tanto pela pouca adesão ao comércio electrónico, como pelo rendimento das famílias. Dos nove países comparados no estudo, é no Reino Unido que mais se gasta online: uma média de três mil euros anuais por agregado familiar. Seguem-se a Suécia e o Luxemburgo, com dois mil euros. Com valores próximos de Portugal surgem a Itália (também 600 euros), a Bélgica (700 euros) e a Espanha (800 euros).

Segundo os dados da SIBS, apenas 53% das compras online em Portugal são feitas com recurso a um cartão bancário. Em segundo lugar nos métodos de pagamento mais frequentes estão vales pré-pagos, o dinheiro e os cheques (por exemplo, quando o consumidor faz um encomenda e paga no momento da entrega) – ambos com uma fatia de 10%. A transferência bancária é usada em 8% das compras.

Na apresentação do estudo, Teresa Mesquita, directora de gestão de produtos da SIBS, classificou os pagamentos em cheque e dinheiro como “o alvo a abater”. Esta semana, a empresa apresentou uma aplicação para pagamentos através do telemóvel, que pretende fomentar as compras online e chegar aos consumidores que são reticentes em inserir dados bancários na Internet ou não têm o tipo de cartão que os comerciantes pedem. Segundo a SIBS, 8% do comércio online em Portugal faz-se no telemóvel, um valor para que contribuem as compras de bens digitais – música, jogos e aplicações –, fomentadas sobretudo por lojas como a do Google e a da Apple.

Um dado do relatório indica que uma parte substancial das compras online será feita em sites estrangeiros. A análise foi feita apenas às transacções na Internet pagas com cartões bancários e concluiu que só 24% acontecem em retalhistas portugueses – muito perto está o Reino Unido, que regista 23% das compras feitas a partir de Portugal. 

As vendas online são ainda residuais no negócio dos comerciantes portugueses, representando uma fatia ligeiramente inferior a dois por cento. Porém, o crescimento entre 2008 e 2013 foi de 19% ao ano, ao passo que o negócio das lojas físicas recuou 2% anuais neste período.

Difícil ganhar dinheiro
Em linha com o resto do sector, as vendas online nos produtos de grande consumo (mercearias e produtos de limpeza, por exemplo) estão a subir a dois dígitos por ano e, dos produtores aos retalhistas, todos são unânimes: é o canal de venda que mais crescimento vai registar. O problema é conseguir ganhar dinheiro.

Durante uma conferência, nesta quinta-feira, em Lisboa, Jacques Reber, director-geral da Nestlé em Portugal, avançou que as vendas online pesam menos de 1% no retalho e são poucos os operadores a nível global que conseguem atingir na Internet o mesmo nível de rentabilidade das lojas físicas. “A Amazon não está a ganhar dinheiro. E esse é o grande desafio do comércio electrónico”, disse.

Ronald den Elzen, presidente executivo da Sociedade Central de Cervejas, sublinhou que no caso das bebidas isso é ainda mais visível, já que estes produtos são dos que têm taxas de vendas mais baixas na Internet. Os custos com a entrega e logística são altos e, até agora, não conseguem ser compensados com o volume de vendas.

Falta “sensibilizar” os consumidores para o preço. Ou seja, mostrar “porque é que o produto tem determinado custo”, diz Ronald den Elzen. Quanto mais transparente e clara for a informação sobre o produto, maior é a percepção do cliente quanto à justiça ou não do preço, defende.

Também Luís Moutinho, presidente executivo da Sonae MC (dona do Continente e do mesmo grupo do PÚBLICO) acredita na evolução positiva do comércio electrónico que, no caso desta cadeia de hipermercados, vale pouco mais de 1% das vendas. “É uma grande tendência, muito mediatizada, mas muito desvalorizada. Porque achamos que é possível ter comércio online sem pagar por ele”, lamenta, admitindo que a “logística de entrega é caríssima”. “Não conseguimos criar na cabeça do consumidor a valorização desse custo. Mas vamos ter de encontrar essa bondade económica”, diz. O crescimento a dois dígitos ajuda “porque cria escala”, mas “há um trabalho a fazer na redução de custos”.

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