Empresa brasileira abre negócio das transferências de jogadores a adeptos

Plataforma digital quer democratizar o investimento nos direitos económicos de jogadores de futebol e funcionar como uma fonte de receitas alternativa para os clubes. Chegada a Portugal prevista para 2015.

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Os adeptos podem deixar de ser meros espectadores e ter partes dos passes de jogadores de futebol Andrew Yates/Reuters

Numa altura em que a FIFA se prepara para proibir a participação de terceiros nos direitos económicos de jogadores de futebol, uma empresa brasileira está a remar contra a maré e lançou uma plataforma digital que permite ao adepto comum investir em passes de futebolistas. A ideia é captar uma fonte alternativa de receitas para os clubes e democratizar o acesso às receitas do lucrativo mercado de transferências. O negócio deve chegar a Portugal já no próximo ano.

Tem o peculiar nome de Panela FC e é uma ferramenta digital onde qualquer adepto de futebol pode investir, numa escala modesta, nos direitos económicos de um lote de jogadores de clubes do Norte e Nordeste do Brasil. Está a funcionar desde o dia 8 de Outubro, mas a ideia esteve a maturar durante os últimos dois anos, como explicou ao PÚBLICO o seu mentor, o empresário Diego Fernandes: “O Panela foi feito para o torcedor que vai poder entrar neste universo do futebol, que até agora estava aberto apenas aos grandes empresários. É uma oportunidade para os torcedores se tornarem empresários ou sócios dos clubes na posse de determinado atleta.”

Para investir, o adepto tem de registar-se no site do Panela FC e adquirir a moeda virtual que circula na plataforma, a denominada “paneleta”, que tem o valor unitário de um real (0,3 euros). Semanalmente, o portal disponibiliza percentagens dos passes de nove jogadores (de um total de 30 até ao momento), com informações sobre as suas idades, equipas que representam, duração dos respectivos contratos e valores de mercado dos atletas. O interessado poderá comprar uma quota máxima de cinco mil paneletas (cinco mil reais ou 1,6 mil euros) por jogador, mas sem constrangimentos no número de futebolistas. Concluída a transacção, o investidor receberá, por mail, o “contrato digital”.

Quando (e se) determinado jogador do portefólio do Panela FC for transferido para outro clube por uma soma superior ao valor de mercado referenciado no site, o adepto receberá a mais-valia gerada, proporcional à percentagem que detém no passe do atleta. Mas existe sempre o risco de perder tudo: caso um jogador rescinda ou termine o seu contrato sem ser transferido; ou se o valor pago por outro clube seja inferior à verba indicada na plataforma digital. Dentro de alguns meses, o Panela irá ainda lançar o que designou como “mercado de segundo tempo”, que permitirá a compra e venda de quotas de futebolistas entre utilizadores do site.

“Com a nossa plataforma, qualquer torcedor poderá ser dono de um pedacinho de um jogador de futebol. Terá essa oportunidade, numa relação directa entre o torcedor e o jogador do seu clube do coração”, esclareceu Diego Fernandes, que garante que o Panela FC será apenas o “intermediário da negociação” entre adeptos e clubes que detêm os direitos económicos do jogador, com quem será directamente acordado o contrato de investimento.

Uma intermediação que terá custos, com a plataforma digital a cobrar uma comissão de 20% por cada transacção. Uma percentagem significativa, mas que o responsável pelo site justifica com os custos operacionais. “Metade da nossa comissão servirá para manter a plataforma em funcionamento, com toda a tecnologia necessária e para investir também em marketing”, justifica o responsável do Panela FC.

Clubes portugueses na calha
Neste momento, são 20 os clubes brasileiros associados à empresa, todos do Norte e Nordeste brasileiro e que competem nas divisões inferiores do país. “Existem muitos clubes pequenos que precisam de ajuda e o Panela foi feito para esses clubes menores”, admite Diego Fernandes, que também estabeleceu acordos de princípio com o Marítimo, Vitória de Guimarães e Trofense, na perspectiva da empresa alargar a sua actividade a Portugal. Inicialmente o Panela anunciou ter também uma parceria com o FC Porto, mas os “dragões” negaram ao PÚBLICO qualquer envolvimento com este projecto e o símbolo do clube acabou por ser retirado recentemente do site da empresa brasileira, por exigência dos portistas.

“Pretendemos entrar no mercado português a partir de 2015. O nosso departamento jurídico está a estudar a legislação para que os torcedores portugueses possam também participar no projecto. Neste primeiro momento, só os torcedores brasileiros é que podem adquirir os direitos dos jogadores que já fazem parte da nossa oferta, mas estamos também a negociar futebolistas de clubes argentinos”, adiantou o administrador-executivo do Panela FC, que não está preocupado com a possibilidade de a FIFA vedar a participação de entidades terceiras, para além dos clubes, nos direitos económicos dos jogadores.

“Nós somos a novidade da novidade. A principal crítica da FIFA é referente ao monopólio dos grandes empresários no futebol, que influenciam as decisões na hora de venda de um jogador. O que o Panela está a fazer é exactamente o contrário: abre o mercado a qualquer torcedor, que pode investir, mas não tem influência na hora da decisão de um clube de vender ou não um activo. Porquê? Porque está limitado em termos de investimento e não tem como influenciar uma transferência, como aconteceu recentemente no Sporting em relação ao jogador Marcos Rojo [os responsáveis “leoninos” acusam um fundo de investimento de ter pressionado a saída do futebolista argentino para o Manchester United]. A decisão é totalmente do clube”, garantiu Diego Fernandes.

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