Fernando Ulrich: é “um mito” o BES ser o banco das PME

Presidente executivo do BPI reconhece o peso do BES na economia, mas contesta a visão de que era “o” grande banco.

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Ulrich considera que a estratégia orçamental do Governo está correcta Nuno Ferreira Santos

O presidente executivo do BPI considera que os problemas do antigo Banco Espírito Santo (BES) “têm sido empolados”, porque nos últimos anos emergiu “um mito” e uma “mentira” que, agora, “interessa a uma data de gente”: a ideia de que a instituição financeira era o banco das pequenas e médias empresas (PME).

Durante um debate no CCB sobre o Orçamento do Estado (OE) para 2015 e a reforma do IRS, Fernando Ulrich deixou um aparte sobre o peso do ex-BES na economia portuguesa. Para contestar aquilo que diz ser “um mito”, o gestor referiu que dos 52 mil milhões de euros da carteira de crédito e garantias do banco em Portugal, cerca de metade estavam concentrados em cinco segmentos. Em causa estavam construção e obras públicas, actividades imobiliárias, sociedades financeiras (holdings), serviços prestados a empresas e “outras entidades”, onde Ulrich diz estarem, por exemplo, os clubes de futebol.

“Foi-se criando um mito – o mito de que o Banco Espírito Santo era o grande banco das PME. Isto agora é um mito que interessa a uma data de gente, não sem bem porquê. Alguns posso perceber, outros nem tanto. Isto é mentira”, referiu, sem dizer a quem se referia.

Ulrich não nega o peso do BES na economia portuguesa, mas contesta a visão de que era “o” grande banco das PME. O BPI tem, naqueles cinco segmentos, uma carteira de crédito na ordem dos 3500 milhões de euros. Mas se Ulrich “porventura um dia viesse a comprar” o Novo Banco, só o faria sem “metade da carteira de crédito”. “Naquilo que eu considero ser os sectores ‘normais’ da actividade, de que eu gosto, o BES é 40% maior do que o BPI, não é oito vezes maior”. Considerando os particulares, “o BPI é maior”.

“Esta história de que era o grande banco das PME é mentira. É um banco importante, claro. É um banco importante, mas é comparável a qualquer um dos outros” grandes bancos, a CGD, o BCP, o BPI e o Santander Totta, contrapôs.

Quando na noite de 3 de Agosto o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, apareceu nas televisões a anunciar a intervenção pública no BES, referiu a “relevância” do banco “no sistema bancário e no financiamento da economia portuguesa”.

Ulrich vincou a sua posição: “Se virmos aquilo que é publicado em organismos sobre a adesão às PME Excelência, PME Crescimento e toda a área das linhas de apoio à agricultura, o Banco Espírito Santo não é o maior. É um dos maiores, mas estamos ali todos taco-a-taco. Portanto, essa ideia de que é ‘o’ grande banco… Tem uma carteira de crédito, de facto, muito grande”, mas estava muito alavancado, vincou.

A “herança” de Vítor Gaspar
Sobre as orientações do Orçamento do Estado para 2015, Ulrich diz que não há grande margem para tomar um rumo diferente. E elogiou o antecessor de Maria Luís Albuquerque. “Considero Vítor Gaspar um grande ministro das Finanças. Acho que ele fez o que o país precisava naquele momento. E se alguma herança dele ainda perdura, do meu ponto de vista, ainda bem”.

“Entendo que Portugal não tem grande margem de manobra para ter objectivos orçamentais muito diferentes destes [que estão no OE]. Coisa diversa é dizer que estou de acordo com tudo exactamente o que está na lei do orçamento e com todas as medidas e com todas as alterações fiscais ou com todas as manutenções fiscais”.

Tendo em conta os “grandes objectivos quantitativos”, Ulrich considera que “a estratégia orçamental é correcta”.

Na mesma mesa redonda, organizada pela sociedade de advogados PLMJ, estavam a participar, sob moderação do comentador Camilo Lourenço, o economista António Nogueira Leite (administrador não-executivo da EDP Renováveis e ex-gestor da Caixa Geral de Depósitos) e o fiscalista Rui Duarte Morais (professor de direito na Universidade Católica do Porto e presidente da comissão de reforma do IRS).

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