BCE já está a passar à prática o seu plano para fugir à deflação

Primeiras compras de obrigações hipotecárias no mercado europeu foram concretizadas esta segunda-feira.

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Mario Draghi prometeu aumentar o seu balanço em um bilião de euros Foto: Kai Pfaffenbach/Reuters

O Banco Central Europeu começou na manhã desta segunda-feira a realizar no mercado compras de obrigações hipotecárias de empresas europeias, uma das medidas prometidas pela autoridade monetária para estimular a actividade económica na zona euro e salvar a economia do risco de deflação.

A notícia foi avançada esta segunda-feira pela agência noticiosa Bloomberg e confirmada pelo BCE ao Financial Times. A Bloomberg diz que o banco central comprou obrigações hipotecárias emitidas por dois bancos franceses – o Societé Générale e o BNP Paribas – e por instituições financeiras espanholas.

As obrigações hipotecárias são títulos de dívida geralmente emitidos pelos bancos, apresentando como garantia tranches de empréstimos concedidos por eles a empresas e particulares. Ao comprar estas obrigações hipotecárias, o BCE está na prática a incentivar os bancos a usarem este tipo de produtos para se financeiarem. Deste modo, os bancos podem ter um estímulo para emprestar mais dinheiro às empresas e particulares, já que podem usar depois esses créditos como garantia em emissões de obrigações hipotecárias que o BCE pode comprar.

Mario Draghi, o presidente do BCE, prometeu que a autoridade monetária irá, com este tipo de operações, expandir o seu balanço em mais um bilião de euros. É com esta injecção de liquidez na economia que o banco central conta reactivar a economia da zona euro e evitar que a taxa de inflação permaneça durante muito mais tempo a níveis muito baixos, tornando mais provável a queda na armadilha da deflação.

Para além da compra de obrigações hipotecárias, o BCE planeia também adquirir créditos bancados titularizados. Nestes caso, o que os bancos fazem é agregar um conjunto de empréstimos concedidos a empresas ou particulares e titulariza-los. Os investidores compram estes títulos, financiando deste modo os bancos. O BCE pode ainda não ter começado a adquirir este tipo de activos porque este mercado ainda não foi reactivado, depois da forte quebra que sentiu depois da crise financeira internacional.

Outra medida também já colocada em prática é a concessão de empréstimos de longo prazo aos bancos. Na primeira operação deste tipo realizada no passado mês de Setembro, a adesão dos bancos a esses empréstimos ficou abaixo das expectativas dos mercados.

O BCE apenas irá apresentar dados regulares sobre estas compras de activos a partir da próxima segunda-feira. Os números que forem anunciados serão decisivos para perceber qual a capacidade do BCE para, através destes instrumentos, conseguir obter um impacto muito significativo na concessão de crédito na zona euro. Vários analistas alertam que, por via dos empréstimos de longo prazo à banca, da compra de obrigações hipotecárias e pela aquisição de créditos bancários titularizados, o BCE terá dificuldades em injectar no mercado a liquidez que é precisa para garantir uma retoma da actividade.

Se não o conseguir, o BCE poderá, apesar da oposição do banco central alemão, ter de avançar para o derradeiro instrumento de política monetária que lhe resta: a compra de títulos de dívida pública emitidos pelos diversos Estados da zona euro.

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