Acidente com autocarros em Espanha “é inexplicável”

Proprietário da transportadora continuava ontem em “estado de choque" com acidente que fez três mortos no sábado.

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Acidente resultou em três portugueses mortos Merche de la Fuente/El Norte de Castilla

O ambiente este domingo era de “choque” com o acidente entre dois autocarros que ocorreu sábado em Espanha, no qual morreram três portugueses.

A mulher do dono da transportadora ainda não percebe o que aconteceu. E o irmão do genro do proprietário garante que este estava ainda “em choque” no domingo à tarde. A mesma expressão é usada por um agente artístico que vive na zona de Grenoble, França, para descrever a “ansiedade” com que a comunidade portuguesa aguardava ontem a chegada de alguns dos passageiros. Ao todo, nos autocarros viajavam 59 portugueses. Eram emigrantes em França: uns trabalhavam lá há muitos anos, outros iriam à procura de emprego.

“Tentei falar com ele, mas está em choque. Saiu ileso do acidente, mas é a primeira vez que lhe acontece um drama assim”, descrevia Agostinho Lopes, irmão do genro do dono da Andrade Voyages. A mulher do patrão da transportadora, Maria da Conceição Andrade, garante que o motorista que embateu no primeiro autocarro era um profissional muito experiente, que “conhecia aquela estrada como as mãos dele” e que “álcool não havia, droga muito menos”. “O que aconteceu é inexplicável”, lamenta.

O acidente aconteceu sábado por volta das 21h (20h em Portugal), numa auto-estrada espanhola, depois de os viajantes terem jantado no hotel Las Lagunas, em Torquemada, e terem feito trocas de passageiros numa área de serviço. Os autocarros, um com matrícula portuguesa e outro com matrícula francesa, viriam de Ponte de Lima e dirigiam-se para Grenoble e Nice.

Um deles terá desacelerado na via de acesso à auto-estrada e o outro não conseguiu evitar o choque. Segundo Agostinho Lopes, o autocarro que chocou não pertencia à empresa: tinha sido alugado em Portugal a uma outra firma, uma vez que a Andrade não tinha autocarros suficientes para o serviço. O mesmo sucederia com os dois motoristas, o de reserva, que faleceu, e o que conduzia, que saiu ileso.

Por telefone, o agente artístico Albano Ribeiro, que também conhecia o dono da empresa de autocarros, disse que a transportadora tem uma excelente reputação tanto junto das comunidades portuguesas como das autoridades francesas: “É de absoluta confiança. Faz transporte escolar, de crianças. Em Grenoble, a comunidade portuguesa está em choque e aguarda com ansiedade a chegada das pessoas”, dizia este domingo à noite o agente artístico, acrescentando que muitos dos passageiros trabalham na construção do novo estádio do clube francês de Lyon.

“Cuidado, cuidado!”
Dois passageiros que seguiam no autocarro de matrícula portuguesa relataram ao jornal El Pais como se deu o acidente, a cerca de 300 quilómetros da fronteira com Portugal: "O autocarro que ia à frente parou de repente quando ia entrar na auto-estrada", conta António, de 49 anos, que viajava com a mulher na parte de trás do autocarro. "Ouvi: 'Cuidado, cuidado, cuidado!' e caímos todos no chão. Os vidros estalaram".

Fonte dos bombeiros de Palencia contou ao PÚBLICO que "a maior parte dos passageiros saiu pelo próprio pé dos autocarros", embora alguns tivessem sido "desencarcerados". Algumas pessoas "tiveram ataques de pânico e de ansiedade", mas, depois de terem recebido ajuda, ficaram "mais tranquilas".

Ao todo, terão sido 26 os feridos, a maioria dos quais já recebeu alta hospitalar. Ontem, porém, pelo menos três portugueses continuavam internados em unidades hospitalares espanholas - Rio Carrion, em Palencia, e o Clínico Universitário de Valladolid. Um dos feridos, um homem com cerca de 80 anos, teve de ser transferido de Palencia para Valladolid, por o seu estado se revelar mais grave, com traumatismos na cervical.

Fonte da subdelegação do Governo em Palencia confirmou à Lusa que esta segunda-feira se realizará a autópsia aos corpos das vítimas. E fonte consular explicou ainda que as famílias das vítimas mortais foram contactadas e que a trasladação dos corpos se encontrava  “nalgum impasse”, pelo facto de envolver um autocarro com matrícula portuguesa e outro com matrícula francesa.

As vítimas são dois homens, um sexagenário e um septuagenário - que viajavam nos últimos lugares do autocarro que seguia na frente, com destino a Grenoble - e um terceiro passageiro, de 34 ou 35 anos, que era condutor auxiliar do segundo autocarro e, ao que tudo indica, familiar de um dos proprietários da empresa de transportes. Este segundo autocarro teria Nice como destino.

O presidente da Câmara de Amarante, José Luís Gaspar, confirmou que uma das vítimas, o sexagenário António Costa, era dali, mas trabalhava em França, onde vivia com a mulher. Teria, pelo menos, uma filha em Amarante: “Falei com a filha e disponibilizei-me para o que fosse necessário”, disse o autarca.

O presidente da Câmara de Boticas, Fernando Queiroga confirmou que uma das vítimas mortais era natural de Boticas e que o ferido mais grave também. "Disseram-me que estava em coma e com lesões graves na coluna", conta. O autarca contactou a família, disponibilizando-se para "ajudar" no que for preciso. Quando à vítima mortal, diz tratar-se de um septuagenário que, embora natural do concelho, tinha casa na zona de Cabeceiras de Basto. Viajava com a mulher, terá trabalhado muitos anos em França e hoje em dia dividia-se entre os dois países, visitando muitas vezes familiares em Coimbró.

A vítima mortal mais nova do acidente era do concelho de Vila Verde, distrito de Braga, confirmou à Lusa o presidente da câmara. Segundo António Vilela, o homem teria 34 anos e seria o segundo motorista de um dos autocarros envolvidos no acidente. A família, diz o autarca, já está em Espanha “para tratar do processo de trasladação do corpo”.

O acidente ocorreu ao quilómetro 65 da A-62 (que liga Burgos, em Espanha, a Portugal), na zona de Torquemada, perto de Palencia. Os autocarros faziam parte de uma carreira regular que liga Suíça, França e Portugal. A mesma região espanhola e a mesma auto-estrada já tinham sido palco de um trágico acidente com portugueses em 2008 - seis operários morreram e uma outra pessoa ficou ferida com gravidade num choque frontal.

O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, garantiu que a secção consular de Madrid está a seguir a situação, juntamente com as autoridades espanholas. com Lusa


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