A charada de David Fincher está decifrada

O realizador conduz o filme com uma frieza castigadora que denuncia o seu desinteresse pelas personagens.

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É provavelmente o filme mais cínico de David Fincher, na medida em que tudo o que parece dizer sobre “o casal” ou sobre “o casamento” é mero produto derivado daquilo que lhe interessa e sempre lhe interessou: o jogo, a maquinação, as charadas de Seven, de Zodiac, que no fundo são as charadas sobre as quais Em Parte Incerta se constrói.

Se Zodiac é o seu melhor filme dos últimos anos é porque se convertia em frustração, e numa permanente repetição de expectativas goradas. Mas em Em Parte Incerta a charada fica decifrada a metade do filme, e só resta então assistir ao desembrulhar dos trâmites do thriller, processo impecavelmente conduzido mas com uma frieza castigadora que denuncia o desinteresse de Fincher pelas personagens, submetidas à suas “regras do jogo”, marionetas com um papel meramente instrumental. 

Bem podem ficar os olhos de Rosamund Pike a mirar a câmara enquanto a voz off pergunta “o que é que fizemos um ao outro?”: essa é a pergunta a que Fincher está menos interessado em responder.

 

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