Robin Williams merecia mais filme

Foi o derradeiro filme de Robin Williams estreado em vida dele. Não haverá muito mais razões para a história lembrar Aproveita a Vida, Henry Altmann.

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Trailer Aproveita a Vida Henry Altmann

Foi um dos últimos filmes de Robin Williams, que se suicidou em Agosto, e salvo melhor informação o derradeiro estreado em vida dele. Não haverá muito mais razões para a história lembrar Aproveita a Vida, Henry Altmann senão esta, contudo.

O filme de Phil Alden Robinson (autor, nos idos de 80 e tal, de um curioso filme com Kevin Costner, Field of Dreams) até tem um bom princípio ficcional, ao erguer toda a sua narrativa em torno da limitada duração de vida que é estimada ao seu protagonista: exactamente 90 minutos, mais ou menos a duração do filme. Ideia que faz lembrar um clássico da série B dos anos 50 (o D.O.A. de Rudolph Maté), onde tudo girava à volta da iminente, e inexorável, morte da personagem principal.

Bom, mas as semelhanças param aí, isto não é um thriller negro mas na melhor das hipóteses uma suave comédia romântica com o objectivo de animar os espíritos e trazer-lhes “filosofia” positiva. De resto, os 90 minutos são mentira, é apenas o primeiro que vem à cabeça da médica estagiária (Mila Kunis), aliás um bocado desaustinada, quando aquele zangado paciente (o “homem mais zangado de Brooklyn”, como diz o título original) lhe exige saber, na sequência do diagnóstico de um aneurisma cerebral, quanto tempo tem de vida. Ele não acredita mas, nunca fiando, decide “aproveitar” a vida que lhe resta e tentar resolver em hora e meia os inúmeros problemas - com a mulher, com o filho - que tem pendentes. E ela, a médica, depois de se aperceber da asneira, vai atrás dele para tentar remediar a situação. A mecânica dos primeiros dois terços do filme é esta - ela no rasto dele, por Brooklyn fora.

Mas estas premissas - tempo e espaço - são tratadas de forma canhestra e indiferente, sem relevância formal, tudo se apagando em função da história que há a contar, a de um homem revoltado (uma das primeiras cenas, Williams entalado no trânsito da hora de ponta, parece vinda do “Falling Down” de Joel Schumacher) à procura do apaziaguamento quando confrontado com uma morte próxima. Tudo se passa dentro dum esquematismo mole e apressado, que se acerta nalguns momentos cómicos (a cena em que Williams descobre a que a mulher tem um amante, por exemplo) falha por completo a dimensão dramática - como tentativa de suicídio na Ponte de Brooklyn, que pedia um Frank Capra que já não há. Robin Williams, fisicamente mais esquisito (o pescoço parece que desapareceu por inteiro) e envelhecido do que nunca, com uma voz como nunca a ouvimos, suja e roufenha (uma voz de “velho”), é uma figura interessante, sobretudo quanto tem que interpretar a ira descontrolada do seu protagonista – mas mesmo nessas alturas o filme nunca consegue dar o salto para fazer da personagem uma presença realmente perturbante, que traga ao espectador alguma incerteza. Williams merecia mais filme, como provavelmente merecia ter tido mais filmes ao longo da carreira. Acabou assim, e sendo as coisas o que são, é o filme que há para se lhe fazer a despedida.

 

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