Novos bombardeamentos tentam impedir queda de Kobani

O Estado Islâmico entrou na cidade curda próxima na fronteira turca, onde já controla vários bairros. Centenas de pessoas fugiram durante a noite.

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Coluna de fumo no meio de Kobani Umit Bektas / Reuters

Perante o avanço do Estado Islâmico sobre Kobani, cidade curda junto da fronteira entre a Síria e a Turquia, os aviões da coligação internacional iniciaram novos bombardeamentos às primeiras horas desta terça-feira.

Os ataques aéreos visam dois pontos específicos, de acordo com os correspondentes da AFP, que descreveram duas colunas de fumo na cidade. Há relatos de outros bombardeamentos durante a noite, mas Mustafa Ebdi, um activista curdo, disse ao Guardian que foram pouco eficazes. “Os ataques atingiram a área de Mistenur, mas eles [o Estado Islâmico] não se concentram lá”, explicou.

A ofensiva dos jihadistas começou ainda na segunda-feira e intensificou-se durante a última noite. Duas bandeiras negras com o símbolo do Estado Islâmico hasteadas em dois locais deram a primeira indicação de que a tomada de Kobani estava iminente.

Há já três semanas que o Estado Islâmico tentava capturar a importante cidade, localizada num ponto estratégico junto à fronteira com a Turquia – de onde são provenientes muitos dos militantes que se juntam à organização terrorista.

Depois de um fim-de-semana em que a coligação internacional composta pelos Estados Unidos e alguns países árabes terem levado a cabo vários bombardeamentos a posições do Estado Islâmico, os jihadistas conseguiram entrar na cidade na segunda-feira.

Durante a noite terão fugido cerca de 700 pessoas, entre civis e milicianos, que procuraram refúgio na Turquia, de acordo com um responsável de Turuc, a cidade turca mais próxima. Nas últimas semanas, Kobani tornou-se uma cidade praticamente deserta, com a saída de cerca de 80% da população.

A cidade pode contar apenas com a resistência das Unidades de Protecção Popular (YPG), uma milícia curda que tem pedido armamento para combater o Estado Islâmico.

Nas últimas horas, os combates de rua estenderam-se a vários bairros de Kobani e o Estado Islâmico controla três bairros da cidade, de acordo com o director do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, Rami Abdurrahman. Porém, uma bandeira curda continua hasteada num edifício no centro da cidade.

Apesar da resistência do YPG, a tomada de Kobani pelo Estado Islâmico pode estar próxima e os curdos reforçam o apelo à participação da Turquia no combate aos jihadistas. "Se isto continua, se não chegar ajuda internacional militar para os residentes de Kobani e para os combatentes curdos, então pode cair nas mãos do EI”, disse à BBC Karwan Zebari, um dirigente curdo nos EUA.

“Penso que os interesses e a segurança nacional da Turquia também estão em jogo aqui”, acrescentou Zebari.

Até ao momento, Ancara tem-se mostrado relutante em apoiar as forças curdas, próximas do PKK, considerada uma organização terrorista pela Turquia, apesar de ter aprovado uma autorização para que o Exército intervenha na Síria.

A estratégia que tem sido seguida pela coligação internacional – que limita a sua acção a bombardeamentos aéreos – também tem sido alvo de críticas, com vários especialistas a sublinharem a sua falta de eficácia. À falta de informação sobre os alvos no terreno juntam-se as próprias características do grupo jihadista. “O Estado Islâmico não tem uma estrutura vulnerável aos ataques aéreos. Tem poucos alvos estáticos”, disse ao Wall Street Journal Christopher Harmer, especialista do Instituto de Estudos da Guerra de Washington.

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