“Só o facto de isto estar a acontecer já é uma grande vitória"

O português António Conceição está no centro dos protestos em Hong Kong e contou por telefone ao PÚBLICOcomo estão a ser as manifestações.

Foto
"Sejam realistas, peçam o impossível" Gael BRANCHEREAU/AFP

António Conceição não tem planos para os próximos dias. Para já, o realizador português que vive entre Macau e Hong Kong está em Hong Kong, no centro das manifestações pelo sufrágio universal e por mais democracia. Tenta desfazer a ideia que terá um europeu: “Isto não são protestos ao estilo europeu, não há um ambiente hostil. Andamos aqui entre a polícia, e vejo polícias a conversar e a sorrir para os manifestantes. E os activistas não conseguem, apesar do que aconteceu [a violência de domingo] apontar o dedo à polícia”, conta, por telefone.

Quem está nas ruas “são jovens, muito jovens”, diz. “Há aqui muitas pessoas que nem devem andar na universidade”, diz.

E nada parece fazê-los arredar pé. “Ainda há pouco caiu uma chuvada, uma trovoada forte, aí durante uns 20 minutos. Normalmente a rua ficaria vazia. Mas ninguém saiu, os estudantes começaram a distribuir capas de chuva, que muita gente já tinha, ninguém foi embora.”

É um momento “muito bonito”, e há “uma onde de solidariedade como não se vê em Hong Kong, é uma metrópole gigante onde há muito egoísmo social.” Agora é o contrário.

Medo? António Conceição não vê medo nestas dezenas de milhares de pessoas. “Os ânimos nunca estão à flor da pele. As pessoas estão tranquilas”, diz, notando também a atitude da polícia. “Não estão aqui à procura de caras importantes”, não é como na Europa. E os manifestantes “não se deixam abalar”.

Mas há alguma preocupação com o que pode acontecer no fim desta terça-feira, quando passar a meia-noite (em Hong Kong são mais sete horas do que em Lisboa). Dia 1 de Outubro “é o dia nacional da China e é um dia muito importante para o partido, e é o início da Semana Dourada em que muitos chineses vão de férias”, diz. “Quando pergunto às pessoas que estão aqui – aos que estão nos postos de água, de comida, ou nos primeiros socorros, e que são jovens, nenhum terá mais de 25 anos –  o que irá acontecer… ninguém sabe.” 

Quanto às expectativas de mudanças políticas em Hong Kong, António Conceição acha que muitos activistas “sabem que poderá não ter consequências directas e que as reivindicações podem não ser atendidas”, mas sublinha: “Só o facto de isto estar a acontecer já é uma grande vitória e irá certamente ter consequências no futuro, seja próximo ou mais distante.”

Sugerir correcção
Ler 5 comentários